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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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pelas diversas formas de vivenciar o gênero, primeiro como homem, depois como<br />

mulher que ainda mescla uma recente vida masculina, experienciando a atração por<br />

ambos os sexos e, por último, como mulher, Orlando vive por séculos com o conflito da<br />

imposição de uma masculinidade e feminilidade socialmente definidas. E nesse<br />

contexto, encontra-se comunhão com os pressupostos da Teoria Queer: questionamento<br />

sobre padrões morais enraizados na sociedade, desconstruindo estereótipos para que as<br />

diferenças sejam respeitadas, e, assim, nenhum gênero ou sexualidade se tr<strong>ate</strong> como<br />

superior à outra diferente do convencional. O que não encerra a discussão do queer<br />

apenas à cultura e comunidade homossexual, abrangendo outras questões além da<br />

vivência de um tipo de sexualidade. Acerca do assunto Richard Miskolci discorre<br />

O novo movimento queer voltava sua crítica à emergente<br />

heteronormatividade, dentro da qual até gays e lésbicas normalizados são<br />

aceitos, enquanto a linha vermelha da rejeição social é pressionada contra<br />

outr@s, aquelas e aqueles considerados anormais ou estranhos por<br />

deslocarem o gênero ou não enquadrarem suas vidas amorosas e sexuais no<br />

modelo heterorreprodutivo. O queer, portanto, não é uma defesa da<br />

homossexualidade, é a recusa dos valores morais violentos que instituem e<br />

fazem valer a linha da abjeção, essa fronteira rígida entre os que são<br />

socialmente aceitos e os que são relegados à humilhação e aos desprezo<br />

coletivo (MISKOLCI, 2012, p.25)<br />

A problemática em torno da necessidade de distinção entre sexualidade e<br />

gênero surge da imposição e do questionamento acerca da afirmação de que a anatomia<br />

rege o gênero e a identidade. E em toda narrativa de Orlando apresenta a critica Woolf<br />

(1928) as identidades socialmente impostas, desnaturalizando-as, como se estas sejam<br />

discursos performativos.<br />

Orlando, embora se sinta em conformidade com o sexo que nasceu, com<br />

atitudes do comportamento masculino da época, destaca-se por uma sensibilidade e<br />

gosto por poesia e contemplação que o distingui dos demais. Woolf o descrevia assim<br />

(…) Orlando era uma estranha mistura de muitos humores– melancolia,<br />

indolência, paixão, amor à solidão, sem falar em todas aquelas contorções e<br />

sutilezas de temperamento que foram indicadas na primeira página, quando<br />

atacava a cabeça de um negro morto, deitava-a ao chão, tornava a pendurá-la<br />

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