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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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para serem acomodadas em um mezanino em seu estaleiro. Como estas tábuas ficam<br />

disponíveis, o carpinteiro consegue produzir uma canoa em dez ou quinze dias. Ele<br />

quem dá o prazo de entrega e uns três dias antes de ficar pronta, avisa ao cliente para<br />

buscá-la em dia e hora marcados.<br />

O experiente carpinteiro possui instrumentos elétricos, que segundo ele,<br />

auxiliam bastante no desempenho, mas o mesmo também possui ferramentas manuais,<br />

algumas adaptadas por ele mesmo. Não se pode parar a produção por causa de uma<br />

possível falta de energia elétrica. Percebe-se preocupação em se fazer um trabalho com<br />

qualidade e esta consciência própria do artífice, de acordo com Sennett (2012, p. 138)<br />

depende “da curiosidade frente ao m<strong>ate</strong>rial de que dispõe”: a escolha da matéria-prima<br />

adequada e a maneira em trabalhar com esta. Cunha (2009) complementa reconhecendo<br />

que o conhecimento tradicional é mais do que ciência antiga, e sim tradição que reside<br />

em suas táticas, preponderando a experiência direta.<br />

[...] é a experiência direta que prevalece. O conhecimento se fundamenta no<br />

peso das experiências visuais, auditivas e perceptivas. A sabedoria atribuída a<br />

certos anciões e pajés se deve às muitas coisas que teriam visto, ouvido e<br />

percebido [...]. A intimidade com a floresta e seus habitantes, o interesse que<br />

se tem por eles, relaciona-se à percepção [...] (LINDSTROM apud CUNHA,<br />

2009, p.365 - 366).<br />

Quando questionado sobre as dimensões que ele usava para produzir suas<br />

embarcações, Zé do Chá respondeu que “não existe projeto”, todas as medidas estão<br />

“em sua cabeça” e que devido a sua experiência sabe o tamanho de cada peça e que às<br />

vezes constrói gabaritos para auxiliarem nas atividades. Percebe-se a relevância em se<br />

transmitir o domínio destas técnicas, para que as mesmas não se percam pela falta de<br />

prática.<br />

Durante a conversa Zé do Chá lembrou, com certa saudade, de uma época<br />

em que as embarcações eram maiores e tinham suas velas coloridas com corantes<br />

naturais e ele ressaltou que por falta de barcos deste porte, quase não se usam mais estes<br />

corantes para este propósito. Paula Andrade e Souza Filho (2012, p. 8 - 9) explicam que<br />

“a abertura de estradas e a circulação por via rodoviária de produtos oriundos da<br />

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