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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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O teatro não é necessário para ensinar isso, mesmo que fosse capaz de fazêlo.<br />

(CARLSON, 1997, p. 146).<br />

A mera narrativa de crimes não os faria menos ou mais odiosos para uma<br />

sociedade que os reconhecesse enquanto tal Como se pode notar, o tom irônico com que<br />

Rousseau se refere à pretensa capacidade que teria o teatro de tornar a virtude amável. O<br />

seguinte trecho não deixa dúvidas quanto a isso:<br />

O teatro torna a virtude amável.... Realiza então um grande prodígio ao fazer<br />

o que a natureza e a razão fazem antes dele! Os maus são odiados no palco...<br />

E será que são amados na sociedade, quando reconhecidos enquanto tais?<br />

Será certo que esse ódio é mais obra do autor do que dos crimes que os faz<br />

cometer? Será certo que a mera narrativa desses crimes nos daria menos<br />

horror a eles do que todas as cores com que são pintados? (ROUSSEAU,<br />

2015, p. 51).<br />

É contra a pretensão dos defensores do teatro clássico que Rousseau se<br />

posiciona. Não haveria razão suficiente para se crer demasiadamente no poder do teatro.<br />

Como já se disse, a rejeição da eficácia de um empirismo como forma de<br />

representação social, pois não seria possível, segundo notou Carlson que uma emoção<br />

momentânea “experienciada” no teatro pudesse converter-se subsequentemente em um<br />

sentimento duradouro. O homem não se torna bom ao ser exposto ao mal. Não obstante,<br />

ao se fazer isso, se corre o risco de se apresentar ao expectador crimes tão horrendos<br />

que ele fora incapaz de conceber; mas que graças ao teatro tem pleno conhecimento.<br />

Com efeito, afirma Rousseau (2015, p. 53) que “[...] se a beleza da virtude<br />

fosse obra da arte, há muito a arte a teria desfigurado! ”, pois “o amor do belo é um<br />

sentimento tão natural no coração humano quanto o amor de si mesmo; ele não nasce de<br />

um arranjo de cenas; o autor não o leva para lá, mas o encontra ali; e desse puro<br />

sentimento que ele favorece nascem as doces lágrimas que faz correr”. Rousseau refuta<br />

a tese de que o teatro possibilite ao espectador uma experiencia empírica capaz de<br />

desenvolver as potencialidades de sua natureza interior.<br />

Percebe-se nas passagens anteriores a ruptura ocasionada pela doutrina<br />

rousseauniana. Seria justo perguntar se Rousseau não teria sacrificado as artes à moral<br />

no momento da negação dos seus efeitos práticos sobre o espectador? Não haveria desse<br />

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