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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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porque muitas vezes são depositários da única fonte de renda das famílias, normalmente<br />

equivalente a um salário mínimo (BRAGA, 2011).<br />

Como acontece em outras localidades rurais, devido à presença da<br />

aposentadoria, várias pessoas permanecem em “seus povoados de origem e tem<br />

incentivado a volta de outras” (GODOI, 2014, p.151). Assim, a pequena variação do<br />

número de habitantes de São João de Côrtes permite que se considerem os dados da<br />

Funasa/ Alcântara (Fundação Nacional da Saúde) de 2008, que confere à vila uma<br />

população de 520 moradores fixos (Ibidem, 2014). É preciso também comentar que<br />

alguns entrevistados, como Sr. Ilmar, se referiram a programas sociais, a exemplo do<br />

Bolsa Família, como a causa da permanência de moradores em seus locais de origem,<br />

mas que também, esta fonte de renda, o comodismo que esta pode resultar, configura<br />

como o motivo da falta de interesse na qualificação e no registro profissional,<br />

igualmente na continuidade do trabalho , especialmente na carpintaria naval.<br />

Mesmo com este cenário de falta de continuidade dos saberes tradicionais de<br />

São João de Côrtes, percebeu-se a resistência de três carpinteiros mais jovens: o filho de<br />

Zé Moraes, o filho de Satiro e o carpinteiro conhecido como Cutia.<br />

Satiro (76 anos) concedeu alguns minutos para uma conversa contextualizada<br />

em oito de abril de 2017. Ele revelou que aprendeu carpintaria com o pai e repassa os<br />

conhecimentos adquiridos para seu filho Jorge, que trabalha com ele no estaleiro<br />

localizado em um terreno atrás de sua casa. O experiente carpinteiro lamenta que “os<br />

jovens da comunidade não se interessam em aprender a construção de embarcações”.<br />

Esta atitude, segundo ele, levará à extinção da carpintaria naval na região em poucos<br />

anos, por isso agradece a participação de seu filho nas atividades no estaleiro.<br />

O carpinteiro explica que leva mais ou menos um mês para fazer uma canoa<br />

de maior porte. Ele se lembra da época em que tingiam as velas dos barcos maiores com<br />

o corante retirado do mangue-vermelho, do murici do mato, do açafrão ou ainda a<br />

utilização do “curi” extraído em Tacaua, comunidade vizinha, entretanto, o mesmo<br />

anuncia que “já teve muito trabalho com tinta, mas já acabou”.<br />

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