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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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O sistema corporativo medieval contribuiu especialmente para essa<br />

interpenetração. O mestre sedentário e os aprendizes migrantes trabalhavam<br />

juntos na mesma oficina; cada mestre tinha sido um aprendiz ambulante antes<br />

de se fixar em sua pátria ou no estrangeiro. Se os camponeses e os marujos<br />

foram os primeiros mestres da arte de narrar, foram os artífices que a<br />

aperfeiçoaram. No sistema corporativo associava-se o saber das terras<br />

distantes, trazidos para cada pelos migrantes, com o saber do passado,<br />

recolhido pelo trabalhador sedentário.<br />

Verifica-se no trecho acima como a forma de reprodução m<strong>ate</strong>rial da<br />

tradição favorecia a narrativa. Recolhe-se daí outro trecho que favorece Leskov na visão<br />

de Benjamin, tendo em vista que aquele retira do cotidiano do povo Russo, e das suas<br />

experiências viajantes, os temas que fazem parte dos seus romances. Walter Benjamin<br />

em O narradorevidencia a beleza dessas experiências para chamar <strong>ate</strong>nção<br />

precisamente à decadência que esta sofria. Interessante que o filósofo judeu não<br />

relaciona tal decadência especificamente à modernidade, evidenciando que se tratava de<br />

um processo que já estava ocorrendo, conforme se verifica na seguinte passagem:<br />

A arte de narrar está definhando porque a sabedoria – o lado épico da verdade<br />

– está em extinção. Porém esse processo vem de longe. Nada seria mais tolo<br />

que ver nele um “sintoma de decadência” ou uma característica “moderna”.<br />

Na realidade esse processo, que expulsa gradualmente a narrativa da esfera<br />

do discurso vivo e ao mesmo tempo dá uma nova beleza ao que está<br />

desaparecendo, tem se desenvolvido concomitante com toda uma evolução<br />

secular das forças produtivas.<br />

(BENJAMIN, 1994, p. 199).<br />

Na visão benjaminiana esse seria o começo do esgotamento da arte<br />

narrativa, que encontraria no início da modernidade, também por meio das forças<br />

produtivas, o romance como grande ameaça. Diferentemente dos romances épicos, o<br />

romance na era do capitalismo buscava favorecer o florescimento da burguesia.<br />

Segundo Benjamin nem mesmo o romance não furtou tanto o espaço da narrativa, como<br />

o novo meio de comunicação capitalista: a informação. Sobre essa realidade pontuou o<br />

filósofo:<br />

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