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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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Se conseguirmos compreender literalmente as descrições clínicas<br />

poderemos igualmente compreender literalmente as teorias científicas, os sistemas<br />

filosóficos, as obras artísticas e a narração de qualquer um, a História como um delírio –<br />

sem deixar, contudo, de avaliar clinicamente e criticamente o sentido singular e coletivo<br />

de um dizer, evidenciando mesmo quando a lucidez ética se perde no puro delírio<br />

imagético ou estético – ou seja, no sentido esquizo-analítico de Deleuze e Guattari,<br />

profundamente inspirado em Nietzsche e Spinoza, cabe sempre avaliar quando uma<br />

narração exprime uma vida doentia, enfraquecida, uma desorganização psíquica que<br />

decompõe as relações reais e empobrece a vida em sua capacidade de sentir e agir.<br />

Caberia ao clínico, imbuído de uma visão literal, tomar o dizer de uma vida como<br />

intuição e leitura, cabendo, nesse sentido, aprender a ler os signos como acontecimentos<br />

de uma vida e seu aprendizado, para acompanhar as relações e produções onde essa se<br />

insere e se recria.<br />

Nesse sentido, a literalidade não é um conceito maior, tal como um conceito<br />

central que organiza em torno de si todos os outros conceitos (tal como o conceito de<br />

Bem ou Ideia em Platão, ou de substância, em Aristóteles), mas sim um conceito menor,<br />

onde todos os conceitos deleuzianos encontram sua linha de fuga e sua língua menor,<br />

singular. Na literalidade todos os conceitos se tornam relacionais, não análogos a uma<br />

forma dominante, mas expressivos segundo suas forças e usos. Sem dúvida que, por<br />

isso, por ser o menor conceito deleuziano, ele não pode ser explicitado e tematizado na<br />

filosofia de Deleuze, justamente porque ele é a expressão literal da fuga dos conceitos<br />

congelados em formas e estruturas, ao mesmo tempo que é a fuga ou linha de<br />

desterritorialização das formas de vida. Mas, justamente pelo seu caráter imperceptível,<br />

torna operante toda a lógica deleuziana. Sem entender que Deleuze só fala literalmente<br />

não compreenderemos sua filosofia, sua língua menor e seus conceitos-ferramentas. Do<br />

mesmo modo, cremos que sem compreender que a vida não fala metaforicamente, mas<br />

sim literalmente (sendo a metáfora um caso, um momento, uma parada de um<br />

movimento e sentido sempre literal), não compreenderemos a imanência de uma vida e<br />

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