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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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termos de um pensamento, que produz nossa percepção de si e do mundo, que reinventa<br />

as orientações do desejo, fazendo-nos mapear a subjetividade de novas formas. Sendo<br />

assim, toda linguagem humana é sempre literal, de modo que podemos ouvir<br />

literalmente os enunciados dos pacientes que acolhemos na clínica e pensar a partir<br />

deles, elaborar com eles, acompanhando-os, inventando, tal como artistas, um<br />

vocabulário e uma teorização que não precisa se arvorar a priori em nenhuma teoria<br />

extrínseca ao próprio encontro clínico – mesmo valorizando sua importância como<br />

intercessores. Logo, não existe saber clínico, a não ser um saber comum, de teor<br />

transversal – tanto filosófico, quanto artístico e também científico – que se abre<br />

constantemente à aprendizagem, até porque se pensa e se repensa (e acima de tudo fala)<br />

a partir das línguas dos que se encontra, erigindo uma linguagem comum e informal,<br />

uma língua menor (DELEUZE, G.; GUATTARI, F., 1995) em devir.<br />

Diante de um paciente, o clínico devém outro, fazendo seu corpo, sua<br />

sensibilidade e suas ideias se engajarem em novas relações. Acompanhando a vida e a<br />

narração do paciente, emerge lentamente, em duplo-sentido, para os dois lados, novas<br />

crenças. Isso não exclui relações de forças e trocas, de modo que o paciente também<br />

devém clinico, na medida em que ele acede ao lugar que observa, escuta e teoriza sua<br />

própria narração, e vê sua vida para além dos clichês. Os lugares de sujeito e objeto se<br />

embaralham, pois o paciente toma sua vida narrada como objeto, mas ao mesmo tempo<br />

é um narrador separado, uma Voz que narra em discurso indireto livre – tal como na<br />

experiência psicanalítica da associação livre, que revela à escuta a presença de um<br />

inconsciente, de um Outro real que fala em nós – ou, como diriam Deleuze e Guattari<br />

(1995), as determinação do único sujeito da enunciação, o agenciamento coletivo de<br />

enunciação e suas múltiplas falas (cogito esquizo, glossolalia, os nós do dizer). É na<br />

situação afetiva, transferencial, em duplo-vínculo, que o sentido se instala a linguagem<br />

adquire movimento, efetividade, performatividade, torna-se gesto, afecto e percepto,<br />

sem perder sua dimensão lógica, noética e discursiva. O clínico, sujeito da escuta, é ao<br />

mesmo tempo objeto, um corpo tomado como base para narrações possíveis sobre uma<br />

vida. Na narração e em sua análise, interpretação – que se torna acima de tudo<br />

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