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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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submetidos a leis tão severas quanto parecem delicadas e inefáveis. Houve<br />

muitos desses ensaístas entre os mestres da vida interior flutuante, mas não<br />

faz sentido mencioná-los; seu reino fica entre religião e saber, entre exemplo<br />

e doutrina, entre amor intellectualis e poesia; são santos com e sem religião,<br />

e por vezes também são simplesmente homens que se perderam numa<br />

aventura. (MUSIL, 2015, p. 265)<br />

Os acontecimentos e atitudes que a vida nos proporciona, a nos colocar<br />

entre o verdadeiro e o falso, só são melhores vistos para quem cultiva o modelo do<br />

ensaísmo. Pode até não ser o ensaio a única via de procedência – e queremos mesmo<br />

outras – em meio à “irresponsabilidade e incompletude das ideias eventuais que<br />

chamamos subjetividade”, mas é a que Musil nos explicita.<br />

Cometti (2001, p. 156-7, apud CASTRO, 2011b, p. 114) decreta Ulrich<br />

como um produto do mundo moderno que, ao desencantar-se com a razão instrumental<br />

e com a redenção da alma em face da marcha das ideias, se vê sem qualidades para<br />

preencher os espaços entre razão e espírito. As possibilidades existenciais de Ulrich são<br />

inúmeras, assim como as qualidades que ele mesmo pode desenvolver – se ele é um<br />

homem sem qualidades, então poderá cultivar várias outras. De todo modo, aceitemos a<br />

leitura de Castro (2011b, p. 114) quando afirma que o romance em si descreve certa luz<br />

ao propor uma possibilidade ética em meio a esse cabedal moderno.<br />

A possibilidade ética vem a ser o pensamento em ação em meio às<br />

possibilidades dos acontecimentos. Contudo, o fato de esse pensamento se manter em<br />

movimento evidencia a possibilidade do embaralhamento das ações a posteriori. O que<br />

não é ruim, pois a afirmação do descontrole nos levará a buscar e a cultivar outras<br />

possibilidades. Assim, o entre-lugar entre a ciência e a arte, a razão e o sentimento<br />

adere, de certo modo, à objetivação da subjetividade:<br />

Não é o caso de aderir a um dos gêneros – ensaístico ou épico – porque é<br />

justamente o entre-lugar entre esses dois registros que equivale ao já<br />

mencionado nível intermediário entre razão e sentimento e que permite a<br />

objetivação da esfera subjetiva, o estabelecimento de um ponto de contato<br />

entre as duas instâncias, em que o intelecto se empenha em articular o<br />

sentimento, dando-lhe uma forma comunicável. Essa articulação entre<br />

intelecto e sentimento, elementos ensaísticos e narrativos, reproduz,<br />

necessariamente, o ritmo autêntico da história e dos fenômenos da realidade<br />

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