28.02.2018 Views

II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

limitando a exatidão da incerteza e os estudos ilimitados do próprio processo.<br />

Entendemos, assim, que o modelo ensaístico de escrita é uma possibilidade de<br />

apresentação de possíveis verdades que se assenta na instabilidade espiritual e que se<br />

afasta, apropriadamente, da realidade tautológica da qual a ciência embrionariamente<br />

necessita:<br />

Se a verdade do ensaio move-se através de sua inverdade, então ela deve ser<br />

buscada não na mera contraposição a seu elemento insincero e proscrito, mas<br />

nesse próprio elemento, nessa instabilidade, na falta daquela solidez que a<br />

ciência transfere, como requisito, das relações de propriedade para o espírito.<br />

Aqueles que acreditam ser necessário defender o espírito contra a falta de<br />

solidez são seus inimigos: o próprio espírito, uma vez emancipado, é instável.<br />

Quando o espírito deseja mais do que a mera repetição e organização<br />

administrativas daquilo que já existe, ele acaba abrindo seu flanco; a verdade,<br />

fora desse jogo, seria apenas tautologia. (ADORNO, 2003, p. 41)<br />

O ensaio, assim, produto da modernidade e em meio a uma crise da<br />

subjetividade, ousa apresentar argumentos que, sem discriminar perspectivas<br />

diferenciadas, apresenta-as ao leitor. Diante dessas questões, entendemos, então, a partir<br />

de Castro (2011a, p. 81), que o ensaio se constitui como: “(...) Modelo de reflexão<br />

surgido de uma noção inequívoca da historicidade do sujeito, o ensaísmo se torna,<br />

assim, uma forma de organização filosófica apta a expressar as experiências do homem<br />

com e no mundo moderno”.<br />

Em face dessas verdades, limites e características do que está sendo<br />

afirmado por ensaísmo, nos perguntamos: como esse modelo se apresenta no romance O<br />

homem sem qualidades? O ensaísmo é questão necessária para boa parte das análises<br />

sobre o livro de Musil, e tem para o personagem Ulrich uma condição fundamental para<br />

sua formação.<br />

3. A narrativa musiliana e a utopia do ensaísmo de Ulrich<br />

A ciência da época de Musil e até mesmo a filosofia, que se apresentava<br />

cada vez mais sistemática, não pareciam, para ele, aptas a resolver os problemas da<br />

1161

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!