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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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modo a inevitável separação entre o mundo empírico e o mundo moral? Ao negar a<br />

catarse Rousseau anula os efeitos tão desejados pelos iluministas que viam aí o cerne da<br />

questão da utilidade das artes teatrais.<br />

Porém, Rousseau se dispõe a demonstrar que na realidade, as coisas<br />

acontecem de outro modo. Que as ideias e abstrações representadas no teatro não tem<br />

nenhuma influência benéfica do ponto de vista da modificação da natureza íntima do<br />

homem. Ninguém se torna bom ou mal como consequência de ter assistido a<br />

espetáculos teatrais.<br />

Segundo a interpretação de Prado Júnior (1975, p. 12):<br />

“Para Rousseau como para Diderot, a crítica do teatro moderno é, assim, o<br />

fruto de um procedimento complexo e ‘totalitário’ que não visa jamais a<br />

poesia dramática, como uma estrutura autônoma, que vai busca-la sempre na<br />

intersecção entre uma estrutura política e uma estrutura psicológica<br />

particular: o estudo do teatro só é possível sobre a base de uma psicologia<br />

histórica e de uma antropologia política”.<br />

Para ilustrar essa interpretação, reproduz-se integralmente a seguir, apesar<br />

da sua extensão, o trecho em que Rousseau aponta o valor circunstancial da vida<br />

contraposto à representação abstrata da realidade:<br />

O coração do homem é sempre direito com relação a tudo que não se<br />

relaciona pessoalmente com ele. Nas brigas em que somos meros<br />

espectadores, tomamos imediatamente o partido da justiça, e não há ato de<br />

maldade que não provoque em nós uma viva indignação, desde que não<br />

lucremos nada com ele; mas quando nosso interesse é envolvido, nossos<br />

sentimentos logo se corrompem, e só então preferimos o mal que nos é útil ao<br />

bem que a natureza nos faz amar. Não é um efeito necessário da constituição<br />

das coisas que o malvado obtenha uma dupla vantagem, uma de sua injustiça<br />

e outra da probidade dos outros? Que acordo mais vantajoso poderia ele fazer<br />

do que obrigar o mundo inteiro a ser justo, exceto ele mesmo, de sorte cada<br />

um lhe desse fielmente o que lhe fosse devido e ele não desse nada a<br />

ninguém? Ele ama a virtude, sem dúvida, mas ama-a nos outros, porque<br />

espera lucrar com ela; não a quer para si mesmo, pois lhe sairia cara. Que vai<br />

ele ver nos espetáculos, então? Precisamente o que gostaria de encontrar por<br />

toda a parte; aulas de virtude para o público, desde que se excetua, e pessoas<br />

imolando tudo a seus deveres enquanto dele nada se exige (ROUSSEAU,<br />

2015, p. 53).<br />

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