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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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Terceiro, o legislador deve conhecer bem o povo que deve ser formado, os<br />

seus costumes e preconceitos, sem a pretensão de reformá-los ou mudá-los<br />

completamente, porque esses costumes constituem uma espécie de direito ou opinião<br />

pública, uma segunda natureza.<br />

É importante entender o duplo pensamento sobre a opinião que uma longa<br />

tradição filosófica considera inferior à “verdade” ou a “ciência”. Por um lado, vimos, no<br />

Segundo Discurso, que, na fase de formação dos primeiros grupos sociais, o amor de si<br />

transformou-se em amor-próprio porque cada um começou a comparar-se com o outro e<br />

a depender da opinião (julgamento, estima, consideração) que o outro fazia dele. Esse<br />

fato provocou o surgimento de vícios como a vaidade e desprezo, vergonha e inveja,<br />

que marcaram enfim, a perda da igualdade, a alienação do indivíduo na sociedade e o<br />

triunfo do jogo do ser e parecer. O homem cobriu-se de máscaras no cenário social. É<br />

por isso que a educação negativa 9 da criança, no Emílio, consiste em não ceder à tirania<br />

ou veneno da opinião, porque o critério que a rege é a aparência.<br />

A visão de liberdade, para Rousseau, é a de que o homem é aquilo que faz<br />

da sua vida, nos limites das determinações físicas, psicológicas ou sociais que pesam<br />

sobre ele. Em outras palavras, não existe um expedito humano do qual nossa existência<br />

seria um simples desenvolvimento. O interesse pela política surge porque somos<br />

responsáveis por nós mesmos e por aquilo que nos cerca, ou seja, pela sociedade.<br />

Estas ideias ficam claras quando Rousseau pretende esclarecer sua<br />

concepção educacional e explicitá-la mediante a vida do homem na sociedade. O<br />

processo educacional, para Rousseau, pautava-se em três aspectos: a) a educabilidade<br />

do ser humano; b) a autonomia ou a ideia de um projeto emancipatório; c) o papel do<br />

professor (mestre) e a educação ensinada. Para Rousseau, o que distingue o homem do<br />

animal é o fato de ele ser uma pessoa livre, que escolhe o que deseja para si, que é<br />

9 Em vez de educar Emílio para um determinado papel social, como é o procedimento comum em<br />

sociedade, propõe educa-lo para ser homem, isto é, segundo a natureza, para viver melhor em sociedade<br />

guardando as qualidades naturais. (...) O objetivo do livro é recriar o homem natural. Deixa-se a criança<br />

livre para se formar por meio de sua própria experiência, sendo a natureza seu melhor preceptor.<br />

(PISSARRA, Maria Constança Peres. Rousseau: a política como exercício pedagógico. São Paulo:<br />

Editora Moderna, 2002. P. 61).<br />

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