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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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Seria ilusório considerar a ideia de perfeição teatral, pois ao querer instruir<br />

acaba-se, igualmente, por desencorajar certos comportamentos que seriam mais úteis se<br />

não fossem demasiadamente prazerosos. Ainda que “se neles [espetáculos] se pode<br />

encontrar alguma utilidade, tanto melhor; mas o objetivo principal é agradar e, se o<br />

povo se divertir, o objetivo já foi suficientemente alcançado” (ROUSSEAU, 2015, 46).<br />

E um espetáculo caracteriza-se, em primeiro lugar, pelo prazer de que resulta e não pela<br />

sua utilidade na medida em que o objetivo principal de uma peça teatral é fazer com se<br />

volte ao teatro mais vezes.<br />

Pode-se inferir, além do mais, que a poética do teatro teria a função de reforçar o<br />

caráter político de nacionalidade e de acentuar as inclinações naturais. Por conseguinte,<br />

em Londres conviria um drama que fizesse odiar os franceses; em Túnis, ficaria bem a<br />

pirataria e assim por diante. Aqui estaria a primeira regra da arte teatral que não deveria<br />

jamais ser desobedecida sob pena de se ter peças perfeitamente compostas e que não<br />

interessasse a público algum. Conclui Rousseau (2015, p. 50): “Assim o teatro purga as<br />

paixões que não temos e fomenta as que temos. Eis aí um remédio bem administrado”.<br />

Rousseau (2015, p. 46) reconhece, entretanto, que “o teatro em geral é um quadro das<br />

paixões humanas, cujo original está em nossos corações: mas se o pintor não<br />

preocupasse em adular essas paixões os espectadores logo iriam embora e não<br />

quereriam ver-se sob uma luz que os levaria a desprezarem a si mesmos”.<br />

Segundo Rousseau, a pergunta sobre “se os espetáculos são bons ou maus<br />

em si mesmos” é uma pergunta excessivamente vaga. Todos os espetáculos são feitos<br />

para um povo em particular e somente por este povo é que se poderá determinar suas<br />

“qualidades absolutas”. Sob essa perspectiva seria inútil considerar que as peças de<br />

Menandro, feitas para Atenas, ficassem bem em Roma, que sob a República, serviam<br />

mais os espetáculos dos gladiadores exaltando a coragem e o valor dos romanos e<br />

inspirando nos cidadãos o amor da crueldade e do sangue. Rousseau reconhece que<br />

embora natureza humana seja una, os homens podem ser modificados pelas religiões,<br />

governos, leis, etc. Ora, tais modificações, segundo o genebrino, tornam o homem<br />

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