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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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leitura cada vez mais instigante. Em suas quinze páginas o leitor acompanha a viagem<br />

da jovem e do rapaz que partilham do constante sentimento de não pertencimento e de<br />

exclusão, o que causa uma tensão em todos os presentes<br />

Era novembro em Buenos Aires, em um sábado, onde tradicionalmente as<br />

pessoas levam flores ao cemitério, a jovem Clara toma o ônibus 168 na esquina da<br />

avenida San Martín com Nogoya, na estação que ficava a uma quadra da casa de<br />

Cortázar, seu destino é o Retiro. No ônibus todos os passageiros trazem flores, Clara<br />

torna-se o centro das <strong>ate</strong>nções dos passageiros, do cobrador e motorista, quando ao<br />

trazer as mãos vazias e comprar o bilhete de 15 pesos quebra a norma, que desenlaça<br />

todo um processo de desigualdade e de alteração da ordem.<br />

No fundo do ônibus, sentados no longo banco verde, todos os passageiros<br />

olharam para Clara, pareciam criticar alguma coisa em Clara que sustentou<br />

seus olhares com um esforço crescente, sentindo que cada vez mais difícil,<br />

não pela coincidência dos olhos pousados nela... (CORTAZAR, 2016, pg. 45)<br />

Logo no início do conto, Cortázar vai demonstrando suas intenções ao<br />

trabalhar os olhares de reprovação do motorista e do cobrador bem como dos<br />

passageiros, um misto de ironia e repulsa, com uma carga de curiosidade é facilmente<br />

percebida ao longo da leitura do conto. Ele nos faz também participar sobre a situação,<br />

sentindo-nos empaticamente como Clara e o rapaz através do seguinte trecho:<br />

Subitamente inquieta, deixou o corpo escorregar um pouco, fixou a vista no<br />

encosto escangalhado à sua frente, examinando a alavanca da porta de<br />

emergência e sua inscrição Para abrir a porta PUXE A ALAVANCA para<br />

dentro e levante-se, considerando as letras uma por uma sem chegar à reunilas<br />

em palavras. Assim conseguia uma zona de segurança, uma trégua para<br />

pensar. É natural que os passageiros olhem para quem acabou de subir, está<br />

certo que as pessoas levem ramos quando vão ao cemitério de Chacarita, e<br />

está quase certo que todos no ônibus tenham ramos na mão. (CORTAZAR,<br />

2016, pg. 46)<br />

Nesse trecho é possível entender que o escritor argentino faz o leitor<br />

participar sobre os desconfortos da situação, afinal se fazer diferente em meio a um<br />

grupo que apresenta características especificas ou uma opinião divergente da sua, pode<br />

tornar a atmosfera bem inquietante conforme os ânimos são administrados.<br />

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