28.02.2018 Views

II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

experiência, justamente uma experiência nova, diferente, que muda nossa relação com o<br />

mundo e com nós mesmos, que os inventa diferentemente. No seu movimento que cria<br />

novas relações, o nosso hábito codificado em línguas, de unir certos verbos, sujeitos e<br />

objetos, se encontra com seu limite, onde alianças insuspeitas se efetivam, forjando<br />

novos acontecimentos e descodificando a linguagem, abrindo um devir minoritário na<br />

língua, a linha de fuga da linguagem.<br />

Entende-se, então, porque a primeira etapa do devir é o devir-mulher. A<br />

forma-Homem coage nossa sensibilidade como a forma padrão da subjetividade. Os<br />

estratos “homem”, “branco”, “ocidental”, “heterossexual”, “trabalhador” etc., são<br />

clichês do pensamento, estratos do saber, que barram o devir, que impedem outras<br />

relações com o mundo, brecando novas experiências que abririam limiares diversos na<br />

sensibilidade. São padrões de pensar, sentir e agir, formas modelos de percpeção e ação:<br />

clichês e ideais. Tais padrões ou modelos oprimem os devires e os modos de vida. Por<br />

isso só há devir minoritário, não existe devir majoritário, dado que este é fixo. Mesmo<br />

as mulheres têm de devir-mulher, sair do enquadramento da sensibilidade que a forma-<br />

Homem as impõe, na medida em que a mulher é uma forma imposta e dependente da<br />

forma-Homem. A partir do devir-mulher, fugindo da opressão da forma-Homem, outros<br />

devires apresentam-se, novas relações, outras crenças, múltiplos cristais de inconsciente<br />

surgem, escancarando inusitadas dimensões da experiência, mundos possíveis e<br />

subjetividades nunca antes vividas: devir-animal, devir-molécula, devir-imperceptível,<br />

devir-todo-mundo, devir-cosmos. As possibilidades são virtualmente infinitas, a<br />

depender das maquinações concretas do desejo, dado que o devir é justamente a<br />

condição para novos possíveis na vida.<br />

A partir disso, queremos pensar a literalidade na clínica. Nossa hipótese é<br />

que o pensamento e a linguagem sempre são literais, sendo a metáfora apenas um caso,<br />

e mesmo um obscurecimento, da literalidade. Assim como a neurose teria como<br />

infraestrutura a psicose (DELEUZE, G.; GUATTARI, F., 2010), a metáfora teria como<br />

infraesturura lógica e ontológica a literalidade. O real pensado como movimento,<br />

atividade, devir, é a usina que produz novas relações na realidade, que reposiciona os<br />

1450

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!