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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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De todo modo, apesar do que propõe o crítico literário, há muitos momentos<br />

de seu texto que devem ser considerados. O autor nos preambula de forma convincente<br />

tanto o que agrada e o que não na obra de Musil. E, também, apresenta os riscos de suas<br />

errôneas leituras, tendo com principal pano de fundo o momento histórico em que ela<br />

foi lançada:<br />

Temo que a obra de Robert Musil, tornada acessível aos franceses pelo<br />

esforço de um tradutor corajoso, seja louvada por princípio. Temo também o<br />

contrário: que ela seja mais comentada do que lida, pois oferece aos críticos,<br />

por seu raro desígnio, por suas qualidades contraditórias' pelas dificuldades<br />

de sua realização, pela profundidade de seu malogro, tudo o que os atrai, pois<br />

é tão próxima do comentário que parece, às vezes, ter sido comentada em vez<br />

de ter sido escrita, e poder ser criticada em vez de ser lida. Como essa grande<br />

tentativa nos alegra, por seus maravilhosos problemas, insolúveis,<br />

inesgotáveis! E como ela nos agradará, tanto por seus defeitos de primeira<br />

grandeza quanto pelo refinamento de suas qualidades, por aquilo que ela tem<br />

de excessivo e, em seus excessos, de contido, enfim por seu fracasso<br />

retumbante. Mais uma obra imensa, inacabada e inacabável. Mais uma<br />

surpresa de um monumento admiravelmente em ruína. (BLANCHOT, 2005,<br />

p. 196)<br />

O “período em ruína” apontado seria a modernidade? A modernidade tardia?<br />

Não fica claro se é essa a proposta no texto de Blanchot, entretanto é importante frisar<br />

que sua perspectiva de leitura sobre a obra de arte é que ela não é externa ou<br />

desvinculada dos modos de existência, mas sim o contrário. Ou melhor, a exigência<br />

literária é totalmente associada à experiência da linguagem e da existência do escritor.<br />

Um ponto de vista que delimita exatamente o motivo pelo qual Blanchot segue esse ou<br />

aquele caminho.<br />

O “dito pelo não dito”, mesmo com a devida consistência, pode nos levar a<br />

uma perda conceitual considerável, direcionando-nos a uma verdade única e até<br />

desmerecida. Contudo, ainda existem modos de reverter esse empreendimento e, a partir<br />

de modelos de escrita ainda não tão usuais, podemos admitir um verdadeiro ganho na<br />

incerteza dos acontecimentos.<br />

Um romance, enquanto gênero literário, pode veicular múltiplas<br />

perspectivas em face de sua polissemia. Musil, não pelas descrições e incompletude de<br />

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