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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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oposição entre ficção e realidade,propondo uma tríade de conceitos em seu lugar: o real,<br />

o fictício e o imaginário (TASCA, 2012, 113).<br />

Enquanto uma recriação ficcional do “descobrimento” do Brasil, essa obra<br />

de Varnhagen coloca em questão oselementos definidores da história e da ficção no<br />

contexto do século XIX, posto que nela aficcionalidade é obtida a partir de um<br />

documento “oficial”, a Carta de Caminha. Varnhagen procurourealizar uma simbiose<br />

entre “imaginação” e “verdade” ao escrever sua ficção histórica.<br />

O Pero Vaz de Caminha da Crônica é um ótimo exemplo do tipo de<br />

reconstrução ficcional de uma personagem histórica que oscila entre o relato<br />

documental e a recriação imaginativa. Mas Varnhagen parece mais preso ao relato<br />

original, pois constantemente faz uma migração do relato crítico historiográfico ao<br />

ficcional, e vice versa. Por diversas vezes utiliza trechos literais de suas fontes para<br />

compor o trabalho. A parte em que trata dos indígenas, por exemplo, é retirada quase<br />

completamente do relato do próprio Caminha, é possível observar tal preocupação no<br />

excerto abaixo:<br />

Deixando para os mais curiosos as bellas e ingênuas descripções da<br />

simplicidade desta gente, feitas por Pero Vaz de Caminha ao seu rei, as quaes<br />

todas revelam na forma e no estilo a religião e os costumes inocentes de<br />

nossos maiores, estimamos não poder resistir ao desejo de transcrever a sua<br />

seguinte narração de uma scena por ele presentada. Prepare-se pois o leitor<br />

que vai ler um período escripto há muito mais de três séculos.<br />

(VARNHAGEN, 1840, p. 33-34)<br />

Trabalhos como o realizado na Crônica permitiamao literato uma abertura<br />

de caminhos nãopermitidos ao historiador oitocentista, tão preocupado com uma<br />

história fidedigna,baseadaem dados documentais que conteriam a “verdade” dos fatos.<br />

Este historiador que se dedicava a romancear oseventoshistóricos, apoiando-se nas<br />

mesmas fontes, operava no limite entre o real e o fictício, limite talvez ainda não tão<br />

definido e definitivo, já que se trata de um período onde a história está se<br />

desenvolvendo enquanto campo específico do conhecimento e conseguindo um espaço<br />

na universidade, ao se tornar uma disciplina acadêmica.<br />

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