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acaba se fundamentando na flexibilização dos rigores da norma, numa flutuação
aparente dos valores sociais e morais vigentes.
Pedro Malasartes (personagem das culturas ibéricas e brasileira, astucioso e
vadio, conforme digita Câmara Cascudo, 1986) é um personagem que, de acordo com
DaMatta (1997, p. 274), consegue converter todas as “desvantagens em vantagens, sinal
de todo bom malandro e de toda e qualquer malandragem”. Sobre essa ideia de saber se
transformar, de saber lidar com as complicações e conflitos de contexto diversos, de ser
um relativizador das leis (regulamentos, códigos e moralidades), de ter (novamente) a
plasticidade como símbolo forte em seu caráter, o autor detalha:
Pedro Malasartes nos diz como transformar a morte e o cadáver em algo vivo
e positivo, ganhando dinheiro e tirando partido de sua própria perda e dor. E
ainda nos ensina a aceitar a relação entre “merda e dinheiro”, na profunda
equação que diz ser o dinheiro (e a posição social que lhe corresponde) podre
e disponível como as fezes, que Pedro vende a um ricaço burro, curioso e
convencido (DAMATTA, 1997, p. 274).
Neste sentido, para além de descrever a personalidade, DaMatta oferece
uma análise sobre o papel social representado por Malasartes, para além da figura do
“herói sem nenhum caráter”. Em suas palavras, um subversivo, perseguidor dos
poderosos, para quem sempre leva a dose de vingança e destruição que denuncia a falta
de um relacionamento social mais justo entre o rico e o pobre.
Tantos outros anti-heróis permearam a literatura brasileira como o esperto
João Grilo e demais personagens de Ariano Suassuna (2005), passando, inclusive, pelo
universo infantil representado pelo Zé Carioca (SAIDENBERG; CANINI, 2015)...
Todos eles (uns mais, outros menos) trazem em sua formação traços de sagacidade,
zombaria, alienação política, sexualidade bastante apurada com mulheres, envolvimento
constante em confusões, dissolução das regras e características de sua condição social
bem delimitada como o desemprego, habitação em áreas periféricas das cidades e baixa
escolaridade. Tais descrições parecem sempre se encaminharem para uma releitura
comum do herói às avessas do Brasil: o que tem o jeitinho brasileiro ou, em outras
palavras, o que reforça e comunga com o Patrimonialismo do Brasil.
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