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Curso de Direito Constitucional

Este Curso se tornou, desde a sua primeira edição em 2007, um êxito singular. O Prêmio Jabuti de 2008 logo brindou os seus méritos e antecipou a imensa acolhida que vem recebendo pelo público. A vivência profissional dos autores, o primeiro, como Ministro do Supremo Tribunal Federal, e o segundo, como membro do Ministério Público experimentado nos afazeres da Corte, decerto que contribui para que este livro esteja sempre atualizado. Nessa nova edição, a estrutura básica do livro foi mantida e o texto foi colocado em dia com a legislação e a jurisprudência mais recente. Sem esquecer, é claro, de novas inserções de doutrina.

Este Curso se tornou, desde a sua primeira edição em 2007, um êxito singular. O Prêmio Jabuti de 2008 logo brindou os seus méritos e antecipou a imensa acolhida que vem recebendo pelo público. A vivência profissional dos autores, o primeiro, como Ministro do Supremo Tribunal Federal, e o segundo, como membro do Ministério Público experimentado nos afazeres da Corte, decerto que contribui para que este livro esteja sempre atualizado. Nessa nova edição, a estrutura básica do livro foi mantida e o texto foi colocado em dia com a legislação e a jurisprudência mais recente. Sem esquecer, é claro, de novas inserções de doutrina.

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majoritária. Esse é o ethos <strong>de</strong> uma Corte <strong>Constitucional</strong>. É fundamental<br />

que tenhamos essa visão.<br />

Isso está, na verda<strong>de</strong>, na obra <strong>de</strong> Zagrebelsky, que versa um<br />

tema histórico e teológico fascinante: a crucificação e a<br />

<strong>de</strong>mocracia.<br />

Diz Zagrebelsky:<br />

1088/2051<br />

“Para a <strong>de</strong>mocracia crítica, nada é tão insensato como a divinização<br />

do povo que se expressa pela máxima vox populi, vox <strong>de</strong>i,<br />

autêntica forma <strong>de</strong> idolatria política. Esta grosseira teologia política<br />

<strong>de</strong>mocrática correspon<strong>de</strong> aos conceitos triunfalistas e acríticos<br />

do po<strong>de</strong>r do povo que, como já vimos, não passam <strong>de</strong> adulações<br />

interesseiras.<br />

Na <strong>de</strong>mocracia crítica, a autorida<strong>de</strong> do povo não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas<br />

supostas qualida<strong>de</strong>s sobre-humanas, como a onipotência e a<br />

infalibilida<strong>de</strong>.<br />

Depen<strong>de</strong>, ao contrário, <strong>de</strong> fator exatamente oposto, a saber, do fato<br />

<strong>de</strong> se assumir que todos os homens e o povo, em seu conjunto, são<br />

necessariamente limitados e falíveis.<br />

Este ponto <strong>de</strong> vista parece conter uma contradição que é necessário<br />

aclarar. Como é possível confiar na <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> alguém, como<br />

atribuir-lhe autorida<strong>de</strong> quando não se lhe reconhecem méritos e<br />

virtu<strong>de</strong>s, e sim vícios e <strong>de</strong>feitos? A resposta está precisamente no<br />

caráter geral dos vícios e <strong>de</strong>feitos.<br />

A <strong>de</strong>mocracia, em geral, e particularmente a <strong>de</strong>mocracia crítica,<br />

baseia-se em um fator essencial: em que os méritos e <strong>de</strong>feitos <strong>de</strong><br />

um são também <strong>de</strong> todos. Se no valor político essa igualda<strong>de</strong> é<br />

negada, já não teríamos <strong>de</strong>mocracia, quer dizer, um governo <strong>de</strong> todos<br />

para todos; teríamos, ao contrário, alguma forma <strong>de</strong> autocracia,<br />

ou seja, o governo <strong>de</strong> uma parte (os melhores) sobre a outra<br />

(os piores).<br />

Portanto, se todos são iguais nos vícios e nas virtu<strong>de</strong>s políticas, ou,<br />

o que é a mesma coisa, se não existe nenhum critério geralmente<br />

aceito, através do qual possam ser estabelecidas hierarquias <strong>de</strong><br />

mérito e <strong>de</strong>mérito, não teremos outra possibilida<strong>de</strong> senão atribuir a<br />

autorida<strong>de</strong> a todos, em seu conjunto. Portanto, para a <strong>de</strong>mocracia<br />

crítica, a autorida<strong>de</strong> do povo não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas virtu<strong>de</strong>s, ao<br />

contrário, <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>-se — é necessário estar <strong>de</strong> acordo com isso<br />

— <strong>de</strong> uma insuperável falta <strong>de</strong> algo melhor.” (Zagrebelsky,<br />

Gustavo. La crucifixión y la <strong>de</strong>mocracia, trad. espanhola, Ariel,

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