02.04.2017 Views

Curso de Direito Constitucional

Este Curso se tornou, desde a sua primeira edição em 2007, um êxito singular. O Prêmio Jabuti de 2008 logo brindou os seus méritos e antecipou a imensa acolhida que vem recebendo pelo público. A vivência profissional dos autores, o primeiro, como Ministro do Supremo Tribunal Federal, e o segundo, como membro do Ministério Público experimentado nos afazeres da Corte, decerto que contribui para que este livro esteja sempre atualizado. Nessa nova edição, a estrutura básica do livro foi mantida e o texto foi colocado em dia com a legislação e a jurisprudência mais recente. Sem esquecer, é claro, de novas inserções de doutrina.

Este Curso se tornou, desde a sua primeira edição em 2007, um êxito singular. O Prêmio Jabuti de 2008 logo brindou os seus méritos e antecipou a imensa acolhida que vem recebendo pelo público. A vivência profissional dos autores, o primeiro, como Ministro do Supremo Tribunal Federal, e o segundo, como membro do Ministério Público experimentado nos afazeres da Corte, decerto que contribui para que este livro esteja sempre atualizado. Nessa nova edição, a estrutura básica do livro foi mantida e o texto foi colocado em dia com a legislação e a jurisprudência mais recente. Sem esquecer, é claro, de novas inserções de doutrina.

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

1. NA EUROPA<br />

60/2051<br />

O reconhecimento do valor jurídico das constituições na<br />

Europa continental tardou mais do que na América. Na Europa, os<br />

movimentos liberais, a partir do século XVIII, enfatizaram o<br />

princípio da supremacia da lei e do parlamento, o que terminou<br />

por <strong>de</strong>ixar ensombrecido o prestígio da Constituição como norma<br />

vinculante.<br />

O fenômeno será melhor compreendido se levarmos em<br />

conta aspectos do <strong>de</strong>senvolvimento das i<strong>de</strong>ias políticas e jurídicas<br />

que inspiraram os conceitos nucleares do constitucionalismo.<br />

Um nome importante para nos situarmos nesse quadro é o<br />

<strong>de</strong> Jean Bodin (1529-1596). Em 1576, Bodin publica, em Paris, os<br />

“Seis Livros da República” e teoriza sobre o po<strong>de</strong>r absoluto do<br />

soberano — o rei. Para o autor, esse po<strong>de</strong>r é perpétuo e absoluto.<br />

É perpétuo, porque não po<strong>de</strong> ser revogado. E não o po<strong>de</strong> ser<br />

porque não <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> um outro po<strong>de</strong>r, não é fruto <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>legação,<br />

mas é originário 3 . O po<strong>de</strong>r é absoluto no sentido <strong>de</strong> não estar<br />

submetido nem a controle nem a contrapeso por parte <strong>de</strong> outros<br />

po<strong>de</strong>res.<br />

O po<strong>de</strong>r absoluto não é tido como po<strong>de</strong>r ilimitado 4 ; Bodin<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a existência <strong>de</strong> pelo menos dois limites. O primeiro, ligado<br />

à distinção entre o rei e a Coroa, que impe<strong>de</strong> o rei <strong>de</strong> alterar<br />

as leis <strong>de</strong> sucessão e <strong>de</strong> alienar os bens que formam parte da<br />

fazenda pública. O segundo, relacionado com a impossibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> o monarca dispor dos bens que pertencem aos súditos, para não<br />

se confundir com um tirano.<br />

Para Bodin, o po<strong>de</strong>r é absoluto, porque cabe ao rei dispor <strong>de</strong><br />

assuntos da soberania, como legislar, <strong>de</strong>clarar a guerra e firmar a<br />

paz, <strong>de</strong>cidir em última instância as controvérsias entre os súditos,<br />

nomear magistrados e tributar 5 . O monarca governa com o auxílio<br />

<strong>de</strong> assembleias e <strong>de</strong> magistrados, mas a Constituição não é mista,<br />

já que o po<strong>de</strong>r último está nas mãos apenas do monarca, não resulta<br />

<strong>de</strong> uma composição <strong>de</strong> segmentos específicos da socieda<strong>de</strong>.<br />

O núcleo duro da soberania não está disponível para os súditos,<br />

acha-se subtraído das forças políticas ordinárias. E aqui já se

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!