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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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(...) O processo psicanalítico é, com efeito, e por excelência, um processo de luto. Fazer o luto é<br />

aceitar a perda; é de algum modo aceitar que se fica só; resta o que nos fica do objecto introjectado,<br />

vive-se o sofrimento da perda, mas fica-se livre para novos investimentos libidinais.<br />

O fim do processo psicanalítico, não da análise, é na transferência, aceitar a separação, a perda<br />

(morte) do analista. E assim a análise continua, ou seja a possibilidade de continuar o diálogo<br />

interno, a procura da verdade de si-próprio, “a capacidade e estar só”, diferentemente do sentimento<br />

penoso da solidão.<br />

Porque o sentimento de solidão significa a presença omnipotente e ameaçadora de um objecto interno<br />

maligno, que contamina o espaço interno e obriga a permanentes projecções, deixando-o vazio.<br />

A capacidade de estar só permite admitir dentro de nós um espaço interno (realidade psíquica), da<br />

qual somos simultaneamente espectadores e agentes porque podemos conservar um bom objecto<br />

introjectado, ultrapassadas que foram as angústias persecutórias e depressivas que estiveram na sua<br />

origem.<br />

Ao abordar os aspectos positivos da “capacidade de estar só”, que o mesmo será significar um nível<br />

desejável de maturidade afectiva, WINNICOTT estava pois a falar desse confronto com a realidade<br />

interior, a que chama relação íntima e privilegiada com o Eu (“Ego relatedness”) e que tem origem<br />

numa relação primária satisfatória, ou seja, decorre do paradoxo da experiência vivida “de estar só<br />

na presença de alguém”.<br />

(...) A capacidade de estar só implica necessariamente a distensão no tempo, do passado para o futuro,<br />

o confronto com a vivência da passagem do tempo. Podemos dizer que este é o ponto nevrálgico do<br />

sentimento de identidade. Vivenciar-se na passagem do tempo é confrontar-se consigo próprio, com<br />

o tempo limitado da sua existência e, portanto, com a sua própria morte. (...)» — grande parte dos<br />

itálicos + Bold são nossos.<br />

E isto é tanto assim, quanto nos é — certamente, não «por acaso...», na Época que atravessamos —,<br />

de algum modo, confirmado, pelo sociólogo britânico ANTHONY GIDDENS (Cfr. O Mundo na Era<br />

da Globalização, 2 000, referido na bibliografia anexa, págs. 53 e seguintes), do seguinte modo:<br />

«(...) A noção de dependência costumava ser aplicada apenas <strong>ao</strong>s casos de alcoolismo e de consumo de<br />

drogas. Mas agora qualquer domínio de actividade pode ser invadido por esta praga. Pode-se ser<br />

viciado, logo dependente, do trabalho, do exercício, da comida, do sexo, e até do amor. E isso<br />

acontece porque estas actividades, e também outros domínios da vida, são agora muito menos<br />

estruturados pela tradição e pelo costume do que eram em épocas anteriores.<br />

Tal como a tradição, a dependência significa que o passado está a influenciar o presente; e, como<br />

sucede com a tradição, a repetição tem um papel fundamental. O passado em questão é mais<br />

individual do que colectivo, a repetição é motivada pela angústia. Eu diria que a dependência é um<br />

congelamento da autonomia. Qualquer con<strong>texto</strong> de rejeição das tradições torna possível um grau de<br />

liberdade superior à que existia antes. Estamos a falar da emancipação dos homens em relação <strong>ao</strong>s<br />

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