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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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«(...) Porque assistimos hoje à erosão do capital social nas democracias ocidentais ? Porque aumenta o<br />

consumo de drogas, a delinquência juvenil e a desagregação da família ? Há certamente muitos factores<br />

sócio-económicos, mas eles não chegam para explicar a escala de erosão do “capital social”.<br />

Os factores sócio-económicos têm de ser combinados com um outro — poderosíssimo — factor que<br />

KARL POPPER e ROBERT PUTNAM tiveram o mérito de citar sem receio: a televisão.<br />

A televisão está a espalhar uma cultura do desespero, a ausência de padrões e a visão de curtíssimo<br />

prazo que é própria dos adolescentes. <strong>Um</strong>a nova classe de burocratas, semi-educados e altamente instáveis,<br />

tomou conta da televisão e está empenhada numa tarefa de destruição: destruição de todos os padrões, do<br />

bom senso e do tecido social das nossas democracias.<br />

As “ideias” desta nova classe sempre existiram, mas estavam tradicionalmente circunscritas a peque-<br />

nos grupos de pequenos e médios intelectuais adeptos da “contracultura” e adversários da chamada “cultura<br />

burguesa”. Hoje, pelo contrário, essas “ideias” são propagadas, sem freios nem contrapesos, até <strong>ao</strong>s mais re-<br />

motos lugares. As primeiras vítimas são, obviamente, os que não têm experiência nem educação para ime-<br />

diatamente decifrar a fraude da “contracultura”: os Adolescentes.<br />

Se este fenómeno não for travado — como já estaá a começar a ser nos E.U.A. —, vamos ter uma<br />

espiral de comportamentos desviantes nas nossas democracias. E começarão a erguer-se vozes populistas<br />

pedindo um governo mais forte e mais interventivo. As democracias mais jovens serão sacudidas por<br />

tentações autoritárias.<br />

A única esperança de evitar essas tentações reside na sociedade civil e na opinião pública. É preciso<br />

denunciar a “nova classe” e a sua ideologia, e é preciso fomentar uma discussão acerca dos padrões de<br />

civismo que constituem o alicerce de uma sociedade livre. A pressão da opinião pública acabará por do-<br />

mesticar a televisão, embora não seja de esperar que converta a “nova classe”» — os itálicos e os bold são<br />

nossos.<br />

Ou, como diz MARIA JOSÉ NOGUEIRA PINTO, no seu artigo de opinião intitulado Sobre as<br />

televisões, publicado no semanário Expresso de 23 de Maio de 1998:<br />

«(...) Estamos a falar dos riscos já visíveis da substituição do mundo real por um mundo de ficção com<br />

predominância da violência sobre a ordem, do mal sobre o bem, do desumano sobre o humano, do perverso<br />

sobre o normal. E o risco maior do relativismo moral e da banalização do sofrimento.<br />

Ao argumento de que às televisões não compete formar as pessoas, contrapor-se-à o argumento de que<br />

às televisões não competirá certamente deformá-las.<br />

Ao argumento de que os “media” privados são empresas que, antes do mais, têm de apresentar<br />

resultados e distribuir dividendos, contrapor-se-à o argumento da função social <strong>deste</strong>s instrumentos e<br />

consequentes referências e limites.<br />

É, pois, natural que aqui defenda não um controlo das televisões pelo Estado mas — o que é muito<br />

diferente — lucidez e coragem numa regulamentação e fiscalização desta actividade que, sendo um dos<br />

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