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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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perante a própria «Transcendência» e/ou... «apesar» Desta Mesma... Ou, justamente, «por causa» da<br />

própria «possibilidade humana» de «A» poder «Entrever», de «a Ela» poder «Aceder...» e de «para<br />

Ela» permanecer interiormente «Aberto» !!!<br />

E aquilo acontece, sobretudo (et pour cause...), numa Cultura, como a nossa (a portuguesa), que dis-<br />

semos ser uma «Cultura da Mãe», na qual — e, apesar de o ser e, portanto, apesar mesmo de isso<br />

poder «parecer», prima facie, «nela», algo de «paradoxal»... (mas que, quanto a nós, se explica,<br />

justamente porque essa nossa Cultura o é tal...) —, frequente e correntemente, a figura da Mãe<br />

(supostamente «com-placente», «desculpante» e «bondosa»...), na relação para com os seus filho/filha,<br />

endossa, transfere, remete ou devolve, sistematicamente, para a figura do Pai, o «odioso» de uma<br />

«Imago» <strong>deste</strong> que é, vinca-damente, autoritária, omnipotente, temível (muito mais do que<br />

«amável»...), implacável, justiceira e... sempre punitiva !<br />

É o caso, por exemplo, daquele, bem conhecido, «lugar comum» (muito português !...), em que a Mãe,<br />

quando ocorre que um seu filho/filha erra em alguma coisa, ou faz uma qualquer «asneira» ou «dis-<br />

parate», ou pratica algo de menos acertado ou correcto e, porventura, censurável — lhe diz, no<br />

imediato: «Pois verás !... Deixa que o teu Pai chegue... e logo vais ver o que ele te vai <strong>fazer</strong>...».<br />

Tudo isto, o dizemos, sem embargo do que escreve CARLOS AMARAL DIAS (Cfr.Expresso-Revista<br />

nº. 1 433, de 15 de Abril de 2 000, página 20, sob a epígrafe: «Cabral ou o Nome do Pai»), porquanto<br />

nos «parece» que, o que este notável psicanalista diz, tem, aqui, mais a ver com a «nossa» histórica<br />

Tradição Ocidental (em sentido o mais amplo e lato), mais propriamente, do que com o que se passa<br />

com a, também «nossa», Cultura Nacional Tradicional:<br />

«(...) Sobre o Pai, aliás, a humanidade tem criado várias modalidades. Desde os hábitos curiosos de tribo<br />

africana, em que o Pai mata o primeiro filho varão nascido, para que este, mais tarde, o não liquide, agir<br />

cruento de um Édipo Universal, até à versão helénica propriamente dita, são diversos os estilos<br />

ensaiados.<br />

Naquela, por exemplo, Édipo comete um parricídio equivocado. Quando mata Laios, não sabe que ele<br />

é seu Pai, ou que Jocasta era sua Mãe.<br />

Tal ignorância não o impedia de ser um filho enjeitado, expulso de Tebas, justamente pelo dixit que<br />

ensombrava o seu destino como presságio: “Matarás o Pai e dormirás com a Mãe !”.<br />

Por aí, a história de Édipo aproxima-se da ideia de filiação helénica. Na altura, se o Pai não<br />

reconhecesse a criança como sua, ela não era filiada. O processo de paternação era puramente<br />

simbólico, e aquela, que não fora por aí re-conhecida, era exposta <strong>ao</strong>s elementos naturais, fora da cidade<br />

e até do Agros, ou seja, nos lugares não marcados pela presença do Homem.<br />

A relação <strong>ao</strong> Pai e <strong>ao</strong> seu nome está, pois, indissoluvelmente ligada às raízes do nosso património<br />

mítico-cultural. Até a nossa tradição religiosa faz do baptismo uma coisa do Pai. A atribuição do nome,<br />

finalmente a passagem do ser biológico <strong>ao</strong> ser simbólico, é feita em seu nome: “Eu te baptizo em<br />

nome do Pai...” (...)».<br />

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