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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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crescimen-to, não só vigoroso, como sustentável e sustentado. A sós, sem destinatário, desliza para a<br />

ilusão e para o delírio. Desligado do outro, o caminho do solitário é a neurose ou loucura.<br />

Em sonhos de sonhos, para mais e outros sonhos, se tece, então, o percurso criativo da humanidade. O<br />

homem “construtor do mundo” (na feliz expressão de LEONARDO COIMBRA) é um criador de<br />

signi-ficância, transformando a coisa e o acontecimento bruto em objecto e evento significativos (o ß e<br />

α de BION), algo que tem sentido na sua história e para o seu projecto com alguém a que esteve ou<br />

está vinculado. É esta articulação com outro ser animado, que me acompanha na realidade ou na<br />

fantasia, o que dá significado àquilo que experimento física e/ou mentalmente. É este universo —<br />

extenso e amiúde renovado — de sentimentos significantes, que dá corpo à minha alma e concretude à<br />

nossa relação. É este o mundo que eu e nós criamos, o da vivência pessoal e compartilhada; de<br />

significados emocionais, simbolizáveis e transmissíveis, vivos e tocantes, como a própria vivência o<br />

foi. Daqui, sai a obra de cria-ção, que não copia, transforma o real. Daqui nasce a cultura, que não<br />

repete, mas inova. Porque a men-te, sempre insatisfeita, cria e recria novas coisas, para seu espanto,<br />

gozo e entretenimento; e também pa-ra seu uso e aperfeiçoamento; e ainda para, mais facilmente e<br />

melhor, mudar o mundo que habitamos.<br />

Criamos não só objectos materiais, como novas ideias, novos conceitos, outros paradigmas, que são<br />

importantíssimos instrumentos para o progresso do conhecimento.<br />

Criação artística ou literária e criação científica, apresentam, não obstante, algumas diferenças. Na<br />

criação científica, o peso da lógica assimétrica é maior. (...)».<br />

E, continuando:<br />

«(...) FREUD falava de energia livre e de energia ligada, respectivamente, no processo primário e no<br />

processo secundário. A live circulação de pensamentos e afectos, desejos e fantasias é condição básica<br />

para o sonho, para a descoberta e para a criação. Opostamente, o aprisionamento em crenças<br />

inabaláveis, pontos de vista rígidos ou certezas dogmáticas é a situação de fuga <strong>ao</strong> crescimento<br />

mental, conducente à esterilização do pensamento.<br />

Só funcionando, alternada e articuladamente, com pensamento analítico e pensamento sintético,<br />

podemos furtar-nos à usura de um e <strong>ao</strong> desperdício do outro.<br />

Não é, porém, no meio que está a virtude, nas meias-tintas do pensar ecléctico. Mas na duplicidade do<br />

ser; e, especialmente, do pensar. Ou, se quisermos, na duplicatura do entender; isto é, na dobra da re-<br />

flexão — rastreando com o pensamento racional a eleição afectiva.<br />

Esta vertente dupla do pensamento — dividente e englobante, classificativa e unificadora — é o que<br />

caracteriza o génio e a criatividade, por oposição à loucura e destrutividade. Muito embora, para al-<br />

guns frenéticos e equívocos “pensadores”, génio e loucura sejam uma e a mesma coisa. (...)»<br />

E, mais à frente, continua assim:<br />

«(...) Porque vivemos do símbolo, da representação partilhada do mundo que queremos conhecer —<br />

como tão bem o mostra a experiência originária da atenção focal partilhada dos olhares do bébé e mãe,<br />

que convergem para admirar um objecto cintilante algures no horizonte —, as concepções comunicáveis<br />

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