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E acrescenta: «Comecei a notar que muitos académicos norte-americanos situados à esquerda (e eu
também me considero situado à esquerda) estavam a resvalar para um pensamento relativista ou
subjectivista, acentuando o aspecto relativo do nosso conhecimento e relegando para segundo plano o
que pode ser apreendido da realidade objectiva, ou, ainda pior, negando por vezes a realidade
objectiva» — os itálicos são nossos.
Ainda a propósito dos «... inúmeros preconceitos de classe que se aninham na ideologia mais
“politicamente correcta”», INÊS PEDROSA noticia, no seu texto intitulado As idades do sexo, publicado a
págs. 32-33 do Expresso-Cartaz de 6 de Dezembro de 1997, a saída em Portugal do livro da escritora norte-
americana CAMILLE PAGLIA, Vampes & Vadias (Vamps & Tramps, 1994), Relógio d’Água, 1997, àcerca
do qual diz:
«A obra de PAGLIA é uma revigorante lufada de vento na claustrofóbica paisagem intelectual norte-
americana, dominada por uma legião de activistas puritanos que se arvoram em detentores da verdade
e inquisidores da intimidade alheia. Demonstra, com clareza e desassombro, de que forma os
movimentos feministas e homosexuais de esquerda acabam por confluir com os sectores mais
conservadores e reaccionários da sociedade na instauração de formas cerradas de censura, preten-
dendo regulamentar ao pormenor a derradeira área de liberdade individual: o Sexo».
E a propósito da moda intelectual chamada «desconstrucionista», intrinsecamente relacionada com
aquele atrás referido relativismo radical anti-normativo, diz, muito justamente, GEORGE SOROS, em
A Crise do Capitalismo Global (referido na bibliografia anexa, pág. 45):
«(...) Agora que as ciências naturais deixaram de insistir numa interpretação determinista de todos os
fenómenos e que o positivismo lógico está progressivamente a desaparecer, sinto-me como se estivesse a
“chover no molhado”. De facto, a moda intelectual virou-se para o extremo oposto: a desconstrução da
realidade em perspectivas e preconceitos subjectivos dos participantes é a grande voga. A própria base em
que podem ser julgadas perspectivas contraditórias, nomeadamente a verdade, está a ser posta em causa.
Considero este outro extremo igualmente disparatado. A reflexividade deve conduzir à reavaliação, e não
à rejeição total do nosso conceito de Verdade».
E a págs. 48 e 49 da mesma obra, escreve o mesmo Autor:
«(...) Dito isto, sinto pouca simpatia pelos que tentam desconstruir a realidade. A realidade é única, e
a sua importância singular. Não pode ser reduzida ou dividida pelas perspectivas e convicções dos
participantes porque há falta de correspondência entre o que as pessoas pensam e o que realmente acontece.
Esta falta de correspondência intromete-se no caminho da redução dos acontecimentos aos pontos de vista
dos participantes, tal como contraria a previsão de acontecimentos baseada em generalizações
universalmente válidas. Há uma realidade, mesmo que seja imprevisível e inexplicável. Isto pode ser difícil
de aceitar, mas negá-lo é fútil ou francamente perigoso, como pode testemunhar qualquer participante do
mercado financeiro que o tenha tentado. Os mercados raramente gratificam as expectativas subjectivas das
pessoas; contudo, o seu veredicto é suficientemente real para provocar angústia e perda — e não há apelo.
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