20.04.2013 Views

Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

incognoscibilidade teórica do Eu-Substância (da «Alma») e, a fortiori, do Eu como Pessoa; para ele, a<br />

Pessoa releva apenas do campo prático e moral e significa, antes de tudo, Dignidade; KANT, aliás, fala<br />

mais de Personalidade do que de Pessoa e afirma que «o homem existe como fim a si mesmo e não<br />

puramente como meio»; personalidade e humanidade são ainda da ordem formal: ser pessoa não é um ser,<br />

mas uma tarefa a realizar, uma Aufgabe, pois que KANT assenta a estrutura pessoal na natureza<br />

racional, inteligente e livre do homem; a pessoa humana está em jogo apenas como tipificação da<br />

racionalidade formal; a pessoa, em KANT, é um «para si», um absoluto — e somente a personalidade é<br />

origem última e o centro do puro dever e do respeito pela lei moral.<br />

Na filosofia contemporânea, logo HEGEL, embora exalte de início os valores da intimidade pessoal,<br />

acaba por dissolver a pessoa individual no Absoluto da Ideia em devir, deixando aquela de ser<br />

subsistente, pois que o idealismo absoluto e objectivo consuma a absolutização da natureza racional<br />

inaugurada por KANT; a única pessoa sujeito do direito é o Estado. Para o marxismo — na medida em<br />

que esquerdizou e inverteu o hegelianismo —, desaparece quase completamente o tema da individuação da<br />

pessoa, embora se apresente como um humanismo — mas estritamente horizontalista e em termos<br />

puramente materialistas, sem ser ou qualquer transcendência, no qual domina apenas a colectividade<br />

(colectivismo radical) e a História como um absoluto (historicismo integral).<br />

Para a Filosofia do Realismo Crítico Cristão, todavia, resiste-se àquela «dessubstancialização»<br />

moderna da pessoa e não se prescinde do seu fundamento ontológico clássico (substância, subsistência,<br />

hipóstase...), continuando a definir-se a pessoa como um «subsistente permanente incomunicado,<br />

intelectivo e livre», no plano ontológico e, no plano axiológico, como «o valor fundamental, porque fim<br />

a si mesma e capaz de atingir o seu fim natural».<br />

Todavia, <strong>ao</strong> que julgamos saber, o Ser da Pessoa, na filosofia mais marcadamente Existencial, define-<br />

-se menos como Sub-stância e Sub-sistência e mais como Ek-sistência (ou Ex-sistência, que não significa<br />

contudo aqui o mesmo que o termo existentia para o pensamento tradicional) e Ordem Relacional, ou seja,<br />

como o Ser que está lançado no seu «Aí» (Da-sein = ser-aí) e «Projectado» de dentro para fora de si (o<br />

Hinausstehen), Ex-posto, Ex-tático e Ex-cêntrico, Aberto para o Mundo, a Realidade e a Verdade e que<br />

continuamente se transcende a si próprio, transcendendo o Mundo, pois sendo dado originariamente<br />

no mundo e, portanto, finito e relativo (o ser-no-mundo de MARTIN HEIDEGGER), continuamente<br />

trans-cende o próprio mundo e a realidade social fáctica para um «Mais Além» absoluto, que é o seu<br />

«Horizon-te» sempre a alargar-se e a ampliar-se e o seu «Infinito» para além de si.<br />

KIERKEGAARD, por exemplo, contra HEGEL, reivindica para a pessoa o estatuto de indivíduo<br />

irredutível, cuja individualidade só se torna possível perante Deus, Tu absoluto e totalmente transcen-<br />

dente: a pessoa é tal por ser uma existência em diálogo com o Tu divino. Este motivo kierkegaardiano<br />

ressoa em toda a filosofia da existência e sobretudo nos autores sensíveis <strong>ao</strong> tema da finitude e da relação<br />

dialógica: M. BUBER, M. SCHELER, HEIDEGGER (que critica, por contraposição com o ser-si-próprio<br />

autêntico, o anonimato do «diz-se», do man, da existência inautêntica do mero estar-aí), GABRIEL<br />

MARCEL (para quem a existência só se dá na relação com um tu e, no limite, com um Tu absoluto),<br />

17

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!