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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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desenvolver conexões orgânicas entre o passado e o futuro e reintegrar as gerações. Tais noções<br />

foram já caracterizadoramente conservadoras, mas, lá onde o conservadorismo se virou contra si<br />

próprio, elas tornam-se, subitamente, radicais. Por cosmopolitismo, entende GIDDENS uma pré-<br />

disposição (ou um estar-preparado), justamente, para não ser demasiadamente<br />

influenciado/controlado, ou dependente, dos modos de vida de qualquer grupo ou comunidade, <strong>ao</strong>s<br />

quais acontece a cada um pertencer. Pode, portanto, o socialismo ter qualquer espécie de significado,<br />

algo assim como uma mundividência ética, algo assim ligado à ideia de comunal ? Decerto que não pode<br />

ser negado que hà um lugar necessário para a Ética na arena política, particularmente numa<br />

sociedade em que praticamente quase tudo está a tornar-se aberto <strong>ao</strong> mercado. GIDDENS diz que,<br />

se a palavra socialismo deve definir hoje uma perspectiva política geral, então sugere, como uma<br />

identidade nova para o Labour (ou, em geral, para uma actual esquerda moderna), uma atitude de<br />

cuidado/solicitude (care), que implica uma ética de responsabilidade, desde logo para consigo<br />

próprio, para com os outros e para com o tecido do mundo material. Care (cuidado) é o oposto de<br />

egoísmo (egoism), mas não deve ser equacionado com altruísmo. Pois que o cuidado consigo próprio<br />

(care of the self) — uma atitude responsável para consigo e o seu próprio corpo — está na origem da<br />

aptidão para cuidar de (e acerca de) outros. <strong>Um</strong>a ética do cuidado, neste sentido, preserva elementos<br />

centrais dos valores tradicionalmente socialistas, na medida em que têm a ver com a interdependência<br />

humana. O cuidado para com os outros tem a ver com aceitar a responsabilidade pelo seu bem-estar,<br />

não em ordem a dominar, mas a proteger e tomar conta de. Também a contestação das desigualdades e<br />

a crítica a sistemas arbitrários de poder definem uma tal identidade. A igualdade e a democracia<br />

devem seguramente continuar a ser imperativos centrais da mundividência do Labour.<br />

Mas devem ser afastados todos os dogmas antigos, tanto da esquerda como da direita (o que significa<br />

realismo político), e, aqui, o radicalismo político significa não ter medo de os criticar da raiz até <strong>ao</strong><br />

caule. <strong>Um</strong>a viragem para a «comunidade» por parte do Labour Party, que significasse uma versão<br />

«mais aceitável» de «o Estado», seria desastrosa; e isso porque simplesmente serviria apenas de<br />

justificação para um regresso <strong>ao</strong> Velho Esquerdismo. O novo individualismo está aí para ficar, bem<br />

como a ordem económica e cultural global com a qual aquele está íntimamente ligado. O socialismo<br />

está morto enquanto um conjunto de doutrinas económicas, mas a aspiração a uma sociedade mais<br />

solidária e participativa ainda está bastante viva. Aliás, tais aspirações só são potenciadas com a<br />

chegada desse novo individualis-mo. Os trabalhistas deveriam também prosseguir o encontro crítico<br />

dos «Verdes» e das formas mais interessantes do pensamento ecológico com o capitalismo. GIDDENS<br />

critica o próprio TONY BLAIR quando este clama por uma «sociedade dinâmica de mercado», sem ver<br />

que esta destrói os valores propriamente comunais que ele próprio quer promover. Se os governos<br />

nacionais estão, agora, de um ou de outro modo, condenados à impotência em face das forças globais<br />

do mercado, como pode o Labour sustentar ideais de igualdade e não-exclusão social, dado que as<br />

nacionalizações já não são uma opção e o welfare state é hoje cada vez mais problemático ?<br />

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