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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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entravam raramente — porventura nunca — em jogo isoladamente, mas que formavam entre eles alianças<br />

diversas a título o mais variável, a ponto de tornarem-se irreconhecíveis <strong>ao</strong>s nossos olhos. No sadismo,<br />

pulsão desde há muito reconhecida como componente parcial da sexualidade, teríamos essa espécie de<br />

aliança, e muito especialmente rica, da pulsão de amor com a pulsão de destruição; do mesmo modo que<br />

na sua contraparte, o masoquismo, uma aliança dessa tendência para a destruição, virada para o interior,<br />

com a sexualidade. Assim, essa tendência, de outro modo impossível de se perceber, torna-se precisamente<br />

perceptível e impressionante».<br />

E diz ainda FREUD um pouco mais à frente:<br />

«(...) A hipótese do instinto de morte ou de destruição encontrou resistência mesmo no seio dos<br />

meios psicanalíticos. Sei quanto está espalhada a tendência para atribuir de preferência tudo o que<br />

descobrimos de perigoso e de odioso no amor a uma bipolaridade original que seria própria à sua natureza.<br />

No princípio, não defendi as concepções aqui desenvolvidas senão a título de ensaio; mas com o tempo, elas<br />

impuzeram-se-me com uma tal força que já não posso pensar de modo diferente. Quero dizer que do ponto<br />

de vista teórico elas são incomparavelmente mais frutuosas que não importa quaisquer outras; elas trazem-<br />

nos, sem negligenciar nem forçar os factos, esta simplificação para a qual tendemos no nosso trabalho<br />

científico. Reconheço que no sadismo e no masoquismo, sempre vimos as manifestações, fortemente<br />

tingidas de erotismo, do instinto de destruição voltado para o exterior ou para o interior; mas já não<br />

compreendo mais que possamos continuar cegos à ubiquidade da agressão e da destruição não erotizadas<br />

e negligenciar em não lhes darmos o lugar que merecem na interpretação dos fenómenos da vida. (A sede de<br />

destruição, voltada para dentro, desvela-se, é verdade, na maior parte a toda a apercepção, sempre que não é<br />

tingida de erotismo). Recordo a minha própria resistência à concepção de um instinto de destruição quando<br />

ela se tornou moda na literatura psicanalítica; e o quanto lhe permaneci inacessível. O facto de que outros<br />

tenham manifestado essa mesma repugnância, e ainda a manifestem, já me surpreende menos. É verdade<br />

que aqueles que preferem contos de fadas se fazem surdos quando se lhes fala da tendência nativa do<br />

homem para a “maldade”, para a agressão, para a destruição, e portanto também para a crueldade. Não<br />

fez Deus o homem à imagem da Sua própria perfeição ? E nós não gostamos que nos lembrem o quanto é<br />

difícil conciliar — apesar das afirmações solenes da “Ciência cristã” — a indenegável existência do mal<br />

com a toda-poderosa e soberana bondade divinas.» — os itálicos e os Bold são nossos.<br />

É aqui que convém salientar que a «Relutante» descoberta de «um Instinto Agressivo, especial e<br />

autónomo» no Ser Humano (a que chamou a pulsão de morte ou de destruição) só veio vincar, em<br />

FREUD, um Pessimismo Antropológico (ou um lúcido e inarredável «Realismo Antropológico» ?) que<br />

praticamente converge com o do próprio THOMAS HOBBES.<br />

Vejamos esta passagem (do <strong>texto</strong> que temos estado a utilizar):<br />

«A parte de verdade que tudo isto dissimula e que se denega de pronta vontade resume-se assim: o<br />

homem não é de nenhum modo aquele ser bonacheirão, com o coração sedento de amor, do qual se diz que<br />

ele apenas se defende quando o atacam, mas um ser, pelo contrário, que deve contabilizar, no acervo dos<br />

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