20.04.2013 Views

Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Tentei, também, mostrar que nesta medida compreendemos bem o desencanto que a espécie humana<br />

está a sentir, sobretudo nos continentes mais dominados pela civilização do nosso tempo. Esta compreensão<br />

implica no meu ponto de vista uma nova escrita do Mal Estar na Civilização. Com a queda das utopias,<br />

voltam agora à boca da cena social, sistemas ideológicos que repõem a luta contra o desamparo <strong>ao</strong> nível<br />

de uma técnica social que agendei sob o nome dos traficantes da perversão.<br />

Os traficantes ideológicos da perversão repõem as ideologias narcísicas do desmentido, as ideolo-<br />

gias que desmentem a diferença, que desmentem a realidade, o racismo, o fanatismo e os agenciadores<br />

masoquistas que através da reposição da relação mestre/escravo, repõem a omnipresença do objecto sob<br />

a forma de uma relação radical sujeito-objecto, em que o objecto não vai embora e não parte, cujo<br />

paradigma é a toxicodependência, mas que varre também o enorme espectro da hiperpresença do objecto<br />

para que a dor do desamparo não seja sentida.<br />

Penso que o problema da pulsão de morte, na cultura contemporânea, em relação <strong>ao</strong> real na cultura<br />

contemporânea, repõe estas questões que implicam uma escrita de um novo Mal Estar na Civilização,<br />

bem como esta relação tremenda entre a COISA e a NÃO-COISA e em que o pensamento que é o lugar<br />

“princeps” <strong>ao</strong>nde o sujeito se organiza parte do lugar da NÃO-COISA. Nesta reposição do tráfico de<br />

perversão é o anunciador oficial da COISA como valor resultante do desamparo fazendo uma espécie de<br />

inversão do caminho do pensamento, propondo-nos uma cultura do “Gadget”, da Mercadoria como<br />

uma cultura que resolve a dor psíquica. <strong>Um</strong>a reposição do objecto enquanto tal, como se a cultura<br />

contemporânea fizesse um pouco aquela coisa que S. PAULO fala na carta <strong>ao</strong>s Romanos, no Cap. VII,<br />

Versículo VII, quando ele diz: “Antes da Lei eu não sabia o que era o pecado, portanto só agora depois da<br />

Lei é que sei que peco”. Eu proponho a substituição da palavra “pecado” pela palavra “coisa” e, dessa<br />

forma, podemos dizer que a palavra do sujeito do fim do século é: Eu agora, a partir disto, sei o que é a<br />

COISA, a palavra funda a COISA. A coisa aparece, mais uma vez, como a coisa com a qual o sujeito se<br />

articula, e por isso, como também diz S. PAULO, nunca foi tão grande o desejo de morte ! Penso que isto<br />

corresponde <strong>ao</strong>s aspectos narcísicos malignos da cultura do fim do século. São narcisismos malignos na<br />

correlação directa em que há uma proposta generalizada da resolução da dor psíquica sob a forma da<br />

reposição fálica do sujeito, sob a forma da reposição da indemneidade narcísica, que só se pode <strong>fazer</strong> sob<br />

a forma do desmentido do real, do desmentido da diferença e do desmentido do desamparo».<br />

E, noutro local da mesma obra, diz ainda AMARAL DIAS:<br />

«(...) No fim do século XX assistimos à queda do muro de Berlim, ou seja, à queda da utopia gorda.<br />

E, paralelamente, assistimos <strong>ao</strong> ressurgir do fanatismo e do racismo. Nós, os psicanalistas, podemos<br />

perceber que este retorno acontece como lugar-limite da negação do desamparo, é a negação da diferença<br />

radical. Observa-se que a produção cultural predominante do fim do século é a produção do phalus como<br />

limite da negação do desamparo. É por isto que se assiste <strong>ao</strong> retorno do racismo e <strong>ao</strong> retorno do<br />

fanatismo.<br />

O problema é que a queda da utopia repõe a questão do desamparo originário. Perante a questão do<br />

desamparo surgem aquilo a que chamo os traficantes da perversão, os traficantes do pensamento perverso<br />

90

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!