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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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que operam um desmentido da diferença afirmando assim a indemnidade. O mundo contemporâneo está<br />

cheio de traficantes da perversão. Os psicanalistas têm muita coisa a dizer sobre isso. A grande preversão<br />

contemporânea é o lugar do desmentido da diferença, do desamparo e da dor.<br />

A grande perversão é o desmentido do real. Qual real ? Do real possível <strong>ao</strong> pensamento, que é o real<br />

da diferença, da separação. Eu não sou tu, tu não és eu ! E, a que é que assistimos ? Assistimos <strong>ao</strong> avanço<br />

das ideologias do desmentido, tais como o fanatismo religioso, o racismo. Assistimos também <strong>ao</strong>s avanços<br />

da dialéctica masoquista e do retorno da relação do senhor e do escravo. Nesta dialéctica há a manu-<br />

tenção da condição de escravo do senhor para não sentir a separação do objecto e a dor do desamparo,<br />

que é a situação da toxicodependência e a de todos os agenciadores masoquistas contemporâneos que<br />

resolvem o problema do desamparo mantendo-se permanentemente ligados <strong>ao</strong> objecto. Com a queda<br />

das utopias do fim do século, assiste-se <strong>ao</strong> retorno do problema do desamparo agora resolvido <strong>ao</strong> nível<br />

perverso e masoquista. Isto acontece devido <strong>ao</strong> negativismo. O negativismo é a pobreza erótica e a medio-<br />

cridade simbólica. Para que haja traficantes da perversão é preciso que a mediocridade simbólica esteja<br />

instalada.<br />

A pobreza erótica e mediocridade simbólica do fim de século são condições necessárias e suficientes<br />

para que a luta mentirosa contra o desamparo se faça sob a forma contemporânea. É preciso que se<br />

compreenda que aquilo a que chamamos pós-modernidade deve ser criticada como FREUD criticou o<br />

problema da modernidade. Basta mudarmos o vertex, não é necessário mudarmos o ponto de observação.<br />

Temos que ampliar os observatórios e fixar o ponto de observação como sendo o desamparo originário.<br />

Os sistemas da produção social são, evidentemente, lugares onde a ilusão se vai repondo. A ilusão<br />

contemporânea é a ilusão do desmentido. É a ilusão da resolução da dor. Não é por acaso que a mancha<br />

endémica da toxicodependência sobe na razão directamente proporcional da diminuição da coisa utópica.<br />

Não é por acaso que a mancha do desmentido sob a forma do fanatismo ou do racismo, sobe na razão<br />

directamente proporcional da descrença nas ideologias que organizaram a contemporaneidade. (...)» — os<br />

itálicos e os Bold são, obviamente, nossos.<br />

d) — Não quereríamos, contudo, encerrar esta temática, sem não resistirmos a transcrever o que, a<br />

respeito dela, dizia AL-MUSTAFA, no poema do libanês GIBRAN KHALIL GIBRAN, intitulado O Pro-<br />

feta, que só tardiamente descobrimos, mas cuja Profundidade e Beleza nunca é demasiado enaltecer e que<br />

adiante teremos a oportunidade de melhor identificar:<br />

«E um dos anciãos da cidade disse: “Fala-nos do Bem e do Mal”.<br />

E ele respondeu:<br />

“Do bem que está em vós, poderei falar, mas não do mal.<br />

Pois que é o mal senão o próprio bem torturado por sua fome e sede ?<br />

Em verdade, quando o bem sente fome, procura alimento até nos antros escuros, e quando sente sede,<br />

desaltera-se até em águas estagnadas.<br />

Vós sois bons quando vos identificais com vós próprios.<br />

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