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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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EDUARDO PRADO COELHO parece defender, <strong>ao</strong> contrário, uma ideia bastante alargada de<br />

«to<strong>ler</strong>ância/permissividade» de todos os comportamentos sexuais, que, no limite, dispensaria mesmo a<br />

existência de um qualquer critério ou padrão normativo-cultural, definidor da(s) «fronteira(s)» entre o<br />

«normal» (aceitável, desejável) e o «anormal» (não-aceitável, indesejável, «perverso»).<br />

Este último ponto de vista, levado até <strong>ao</strong> fim, tem consequências óbvias: por exemplo, na defesa da tese<br />

de que a homosexualidade, a bisexualidade, o lesbianismo, o travestismo, o transsexualismo, etc. (e o<br />

incesto ? e a pedofilia ? e a prostituição infantil ? e a promiscuidade ? e o sexo em grupo ? e o sexo «sem<br />

envolvimento romântico» = sem amor ? e o sexo com vários parceiros, simultanea ou sucessivamente ?,<br />

etc.) seriam comportamentos tão «aceitáveis» e/ou «normais» quanto a heterosexualidade<br />

monogâmica, emocionalmente adulta, estável e duradoura (FREUD), porquanto seriam todos aqueles<br />

comportamentos, bio-antropologicamente equivalentes e humanamente possíveis.<br />

Mas, ocorre-nos logo a pergunta: sendo eles todos humanamente possíveis, serão mesmo equivalen-tes<br />

de um ponto de vista qualitativo, i. é, emocional ou psicológico e, portanto, «moral» ?<br />

Quanto a nós, sem jamais prescindirmos da exigência axiológica de um qualquer padrão normativo-<br />

cultural, definidor do «normal» e do «anormal» — como, de resto, sucede em todos os demais<br />

comportamentos humanos —, temos de levar em conta que, a enorme variabilidade e plasticidade<br />

(polimorfismo) dos comportamentos humanos especialmente sexuais (coisa que a sexologia e a bio-<br />

an-tropologia vieram confirmar, desde já o famoso Relatório KINSEY — intitulado no original Sexual<br />

Behavior in the Human Male, 1947, tendo o seu autor, de nome <strong>completo</strong> ALFRED CHARLES<br />

KINSEY, nascido e morrido nos anos de 1894-1956 —, passando pela pedagogia do casal MASTERS &<br />

JOHNSON e até <strong>ao</strong>s dois mais recentes relatórios da americana SHERE HITE) conduz a que essa<br />

indispensável norma cultural reguladora seja especialmente flexível e aberta, de modo a que, sem<br />

deixar de definir os «limites» e as «fronteiras» de um qualquer padrão central de «normalidade» dos<br />

comportamentos sexuais cultural-mente aceitáveis, todavia «to<strong>ler</strong>a» com a maior elasticidade<br />

possível, compatível com os valores absolu-tos da decência, da dignidade e da liberdade humanas, os<br />

comportamentos que tendem a «desviar-se» desse padrão central e que vêm assim a colocar-se,<br />

progressivamente, nas suas «franjas». Bem como não deixa de «interditar», em absoluto, os<br />

comportamentos que se colocam já para além das «fronteiras» da norma.<br />

E. P. COELHO parece não poder deixar de estar de acordo com esta formulação, se bem o<br />

compreendemos, <strong>ao</strong> colocar como limite absoluto a liberdade alheia. Quer dizer: um qualquer limite<br />

tem de haver ! E ainda com o limite, também, de não se pretenderem agora, esses comportamentos<br />

tendencial-mente «desviantes», virem a «impor-se», <strong>ao</strong> invés, eles mesmos como «norma»,<br />

invertendo a norma verdadeira, <strong>ao</strong> reivindicarem «reconhecimento social», porquanto, afinal, não<br />

passam de possíveis variações «marginais» em relação <strong>ao</strong> núcleo central da norma verdadeira.<br />

E não são, portanto, equivalentes <strong>ao</strong>s comportamentos sancionados pelo núcleo central qualitativo da<br />

norma verdadeira como «normais-aceitáveis-desejáveis». Antes, se desqualificam e se degradam,<br />

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