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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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B) — Outra das palavras que vemos hoje desgastada Ad Nauseam e à exaustão é a palavra<br />

«Solidariedade».<br />

Por tudo e por nada se invoca o valor da Solidariedade, a propósito e a despropósito, independente-<br />

mente dos con<strong>texto</strong>s e sem uma questionação prévia justamente dos con<strong>texto</strong>s sociais em que tal valor<br />

pode ser pertinente e ter viabilidade.<br />

Ignora-se que, se o valor (autêntico) da Solidariedade pode ser pertinente e ter viabilidade num<br />

pequeno grupo de pessoas que se conhecem «face a face» (e é também só neste con<strong>texto</strong> que faz<br />

sentido toda a filosofia do Rosto e do Infinito de EMMANUEL LÉVINAS), ou seja, no nível infra-<br />

estrutural social fundamental microssocial, local e situacional-concreto das «pequenas comunidades<br />

de vida e de saber», ou «mundos-da-vida» (BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS, HUSSERL), ela é<br />

contudo absolutamente despropositada, inadequada e mesmo «perversa» numa Grande Sociedade<br />

Aberta, ou no nível social estrutural fundamental intermédio, abstracto e alargado da «realidade» da<br />

economia descentralizada, plural, aberta e concorrencial do mercado e das trocas livres, ou das relações<br />

sociais horizontais de mera comutatividade e reciprocidade contratuais da catalaxia ou da «ordem<br />

espontânea» (kosmos), hoje irreversivelmente globalizada <strong>ao</strong> nível do próprio Planeta.<br />

Aliás, a palavra Solidariedade vem de sólido, que é algo de cheio, de substantivo, de coeso, de rígido,<br />

de fixo, de estático e de compacto, como o Estado — não admira, pois, que os solidaristas sejam<br />

estatistas, só falem de «coesão social» e queiram estatizar toda a sociedade !!! —, enquanto que a<br />

Grande Sociedade Aberta é algo de flexível, de móvel, de mutável, de dinâmico, de plural e de fluido,<br />

como a liberdade humana, e incompatível com qualquer solidez, fixismo ou rigidificação.<br />

Exemplos de casos em que a Solidariedade Social (especialmente a horizontal, como por exemplo a<br />

«solidariedade» ou «consciência de classe» marxistas, mas já não porventura a vertical) pode ser<br />

contraproducente do ponto de vista da eficiência económica global, contribuindo para uma<br />

«ossificação» e «estagnação» económico-social, podem ver-se em F. FUKUYAMA, Confiança...,<br />

citado, entre págs. 145-155.<br />

A fluidez, flexibilidade, mobilidade, mutabilidade, pluralismo, diversidade e dinamismo da Grande<br />

Sociedade Aberta (hoje já globalmente planetária) é incompatível com qualquer fixidez,<br />

compacticidade ou rigidez estrutural ou sistémica !<br />

E ignora-se ainda que, no nível superior e ulterior, ou supraestrutural, da «comunidade política<br />

pública» da comunidade nacional, ou mesmo transnacional, em que nos reconhecemos um «Nós»<br />

político e social global aberto (povo, nação, pátria, república = comunidade) e uma «comunidade<br />

crítica intersubjectiva de comunicação» ou «comunidade de comunicação ilimitada» (ÄPEL,<br />

HABERMAS), onde predomina uma ordem espontânea «relativamente» organizada, o valor decisivo<br />

é antes do mais o da corresponsabilidade de todos nós, cidadãos, pelo poder político e axiológico-<br />

cultural possível e realizado.<br />

O valor da solidariedade («solidariedade...nacional»?, «solidariedade... social»?) continua portanto a ser<br />

usado indiscriminadamente, independentemente de uma análise e contextualização social-estrutural<br />

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