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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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Assim, tudo o que podemos perceber dos acontecimentos externos são, portanto, apenas propriedades<br />

tais desses acontecimentos que eles possuem como membros de classes que se formaram por<br />

«conexões» («linkages») passadas. As qualidades que atribuímos <strong>ao</strong>s objectos experienciados são,<br />

estritamente falando, não propriedades desses objectos em si mesmos, mas uma rede de relações pela<br />

qual o nosso sistema nervoso as qualifica ou, para o pôr diferentemente, tudo o que sabemos acerca do<br />

mundo é da natureza de teorias e tudo o que a «experiência» pode <strong>fazer</strong> é mudar («falsificar» diria<br />

POPPER, que aliás é citado por HAYEK, embora este admita que aquele possa não estar totalmente de<br />

acordo com a sua tese...) essas teorias — ou «pré-compreensões».<br />

Todavia, apesar da refutação do empirismo «puro» (pelo menos, na versão de JOHN LOCKE, cuja<br />

máxima fundamental fora a de que: nihil est in intellectu quod non antea fuerit in sensu), do dualismo,<br />

do fenomenalismo, do positivismo, do behaviourismo, do pragmatismo sem princípios e do<br />

materialismo — a tese de HAYEK, na medida em que concebe a «ordem sensorial» global como<br />

tendo sido construída pela experiência gradual, quer da espécie (filogenia), quer do organismo<br />

individual (ontogenia), pela retenção de conexões («linkages») entre os efeitos exercidos sobre eles<br />

pelo mundo externo, é, apenas neste estrito sentido, definitivamente empirista, como o próprio<br />

expressamente o admite.<br />

Em relação <strong>ao</strong> empirismo «puro», HAYEK elimina o hipotético núcleo de sensações «puras» ou<br />

«primárias», supostamente sem nenhuma relação com experiências anteriores e que comunicasse<br />

«directamente» propriedades dos objectos externos, ou que constituísse irredutíveis elementos ou<br />

átomos mentais; e considera que toda a sensação, mesmo «a mais pura», deve ser olhada como uma<br />

interpretação de um evento à luz da experiência passada, do indivíduo ou da espécie, uma vez que a<br />

experiência não é uma função da mente ou da consciência, mas são antes estas que são produtos da<br />

experiência pré-sensorial, ou das «linkages» pré-sensoriais — ou seja, de um «saber» a priori<br />

acumulado e implícito, proveniente do passado, que determina as próprias «condições de<br />

possibilidade», ou «categorias», das experiências sensoriais presentes; «saber» esse que apenas pode<br />

ser «revisto» por um novo «processo de reclassificação» sempre que as expectativas da «classificação»<br />

existente são desapontadas ou as correlativas «crenças» contrariadas por novas experiências; <strong>deste</strong><br />

modo, o empirismo, mais do que rejeitado, é ainda mais radicalizado, porque, precisamente porque<br />

todo o nosso conhecimento se deve à experiência, é que ele deve conter elementos que não podem ser<br />

contraditados pela experiência; i. é, a experiência sensorial pressupõe uma ordem de objectos<br />

experienciados que precede essa experiência e que não pode ser contraditada por ela, embora seja<br />

ela própria devida a uma outra, anterior, experiência.<br />

Estas considerações têm também algo a ver com a velha controvérsia acerca da «liberdade da vontade».<br />

Mesmo que possamos saber o princípio geral pelo qual toda a acção humana é causalmente determinada<br />

por processos físicos, isto não significaria que para nós uma acção humana particular pudesse<br />

jamais ser reconhecível como o resultado necessário de um quadro particular de circunstân-cias<br />

físicas. Para nós as decisões humanas devem sempre aparecer como o resultado do todo de uma<br />

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