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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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mais perspicaz que seja, ou por mais dispositivos científicos que maneje, consegue alcançar: saber, de<br />

«certa ciência», o que são a mentalidade, a alma e o sentir dos portugueses, quais as suas verdadeiras e<br />

profundas motivações, porque faz o que faz, ainda que seja só através de percentagens e sobretudo<br />

através de uma atitude maioritariamente omissiva, como o é uma «abstenção» ! A «abstenção», quando<br />

maioritária, para ESPADA, não é nenhum «enigma», nem é silêncio: é «eloquência», «fala bem alto», e<br />

é, para ele, «óbvio», o que significa. E considera que isso se deveu, principalmente, <strong>ao</strong> «bom senso» dos<br />

portugueses — é nova, para nós, esta sua atitude de «adulação» e «lisonja» populares ! Cabe então<br />

perguntar-lhe, agora que se considera uma pessoa «séria», «respeitável», «madura», «bem sucedida» e<br />

de «bom senso», liberal como sempre se proclamou, porque é que é tão to<strong>ler</strong>ante com as «... escolas<br />

privadas, hospitais privados, sucesso pessoal, opiniões diferentes e fé religiosa», justamente «coisas»<br />

que acusa os defensores do «Sim» de não to<strong>ler</strong>arem (?!), mas é (foi) tão into<strong>ler</strong>ante com a muito mais<br />

singela, mas muito mais humanamente importante, liberdade ético-prática da pessoa individual de<br />

uma mulher que tenha de se debater concretamente com o problema em causa (abortar ou não abortar),<br />

podendo, eventualmente, ter de vir a necessitar de <strong>fazer</strong> uso dessa simples liberdade negativa (já<br />

esqueceu onde começa e quais são as raízes da tradição liberal que andou a sorver na Inglaterra e nos<br />

E.U.A. ?) e de ter de optar, apoiada apenas nos ditames da sua consciência moral própria, pela<br />

interrupção da gravidez ? Terá uma pessoa, como ESPADA, que há anos e anos não pára de falar e de<br />

voltar a falar de POPPER, da Inglaterra, dos E.U.A. e por aí fora, autoridade moral para acusar os que<br />

não pactuam com a sua actual deriva conservadora (e, neste con<strong>texto</strong>, mesmo reaccionária...) de<br />

dogmáticos ? Até que ponto é que, pelo menos nos nossos valores, convicções e princípios humana e<br />

moralmente mais fundamentais, não somos todos, de algum modo e quase que necessariamente<br />

dogmáticos ? ESPADA considera-se excepção a isso ? A que título ? Não será ainda mais dogmático<br />

aquele que não reconhece o seu próprio «dogmatismo», mesmo se encoberto ou apenas implícito e, por<br />

isso mesmo, inconsciente ? Não será o não-assumido, nem auto-reconhecido, dogmatismo de ESPADA<br />

cada vez mais o que o próprio POPPER chamou de «dogmatismo reforçado» ? Parece-lhe mais sensato,<br />

prudente, de «bom senso», a quieta non movere a que se referia muito acertadamente HAYEK (de que já<br />

sabemos que nunca gostou muito...), <strong>ao</strong> criticar, tanto o conservadorismo timorato, sem ideias,<br />

princípios e concepções próprias, que se limita a «seguir a corrente», que se limita a pactuar com o statu<br />

quo social hipocritamente estabelecido (veja-se, como uma luva, o <strong>texto</strong> de HAYEK intitulado Why I<br />

am not a Conservative, no post-scriptum da obra intitulada The Constitution of Liberty, referida na<br />

bibliografia anexa), ou o pragmatismo «sem princípios», que privilegia o «expediente» (ainda na<br />

terminologia de HAYEK) e considera «dogma» tudo quanto sejam Valores, Princípios, Convicções, etc<br />

? Sim, é, pelo menos, menos problemático, menos angustiante, mais tranquilizador, por vezes, estar, por<br />

comodismo, do lado do que se chama de «bom senso», que, as mais das vezes, não passa daquela versão<br />

do «senso comum» que, pelo seu redobrado dogmatismo, cegueira voluntária («não há ninguém mais<br />

cego do que aquele que não quer ver...») e recusa da dúvida, se assemelha, na sua imobilidade e<br />

obstinação, <strong>ao</strong> verdadeiro «espírito do rebanho» ! Leia ESPADA, <strong>ao</strong> menos, o que escreveu no mesmo<br />

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