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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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constructs, theories), abstractos e apriorísticos, que resultam eles mesmos de uma anterior longa<br />

experiência evolutiva, do indivíduo (ontogenia) ou da espécie (filogenia), por um lado, e da evolução<br />

do mundo cultural e civilizacional, por outro, sendo eles mesmos evolutivos e adaptativos, tanto a<br />

nível ontogené-tico, como filogenético e cultural.<br />

Mas o nosso conhecimento não resulta nunca, directamente, só e apenas dos dados sensoriais da<br />

experiência corrente «em bruto» ou directamente dos dados empíricos do mundo objectivo, embora<br />

obedeça, em princípio, às mesmas leis <strong>deste</strong>.<br />

Pelo que, sendo de rejeitar, em via de princípio e em última análise, as teorias dualistas cartesianas de<br />

duas «substâncias», que concebem a mente humana como uma «substância» análoga, embora distinta,<br />

da do mundo exterior (daí a crítica <strong>ao</strong> «substancialismo» e <strong>ao</strong> «materialismo»), na prática temos de<br />

manter um certo dualismo da mente e do mundo exterior.<br />

O que chamamos mente é, assim, uma ordem que prevalece numa parte particular do universo físico —<br />

uma sub-ordem, que somos nós mesmos —, mas isso não quer dizer que possamos explicar como essa<br />

sub-ordem se posiciona na Ordem mais compreensiva do Universo. Pelo que há limites para a<br />

«explica-ção», pois só pode explicar algo um organismo ou um sistema com maior grau de<br />

complexidade que o explicado — e o cérebro humano não se pode nunca explicar a si próprio<br />

totalmente, o que é o limite último do nosso conhecimento. A própria ideia da mente explicando-se a si<br />

própria é uma contradição lógica — um nonsense no sentido literal da palavra — e o resultado do<br />

preconceito de que devemos ser capazes de lidar com os eventos mentais do mesmo modo que<br />

lidamos com os eventos físicos.<br />

Pelo que temos sempre, em última análise, que nos contentarmos com uma explicação de princípio,<br />

pois qualquer explicação se refere sempre a uma generalidade ou classe de acontecimentos ou de<br />

objectos; e embora possa haver explicações com diferentes graus de generalidade — devendo<br />

reservar-se a expressão explicação de princípio para as explicações de maior generalidade e a<br />

expressão explicação de detalhe para as de menor generalidade —, todavia, estritamente falando,<br />

nenhuma explicação pode pretender ser mais do que apenas uma mera explicação de princípio.<br />

<strong>Um</strong>a «explicação» é precisamente um dos processos mentais que esta teoria pretende explicar: a<br />

«explicação» consiste na formação no cérebro de um «modelo» do complexo de eventos a serem<br />

explicados, um «modelo» cujas partes são definidas pela sua posição numa mais compreensiva<br />

estrutura de relações que constitui o travejamento («framework») semi-permanente, do qual as<br />

representações dos eventos individuais recebem o seu significado. A «explicação» refere-se sempre a<br />

classes de eventos, e dará conta apenas daquelas propriedades que são comuns <strong>ao</strong>s elementos da<br />

classe. A «explicação» é sempre genérica, no sentido de que se referirá sempre a traços que são<br />

comuns a todos os fenómenos de uma certa espécie e que não pode nunca explicar tudo o que pode<br />

ser observado num particular quadro de eventos. Quanto mais simples for o modelo, mais ampla<br />

será a escala de fenómenos particulares dos quais ele reproduz um aspecto; e quanto mais<br />

complexo for o modelo, mais restrita será a sua escala de explicação.<br />

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