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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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nos preocupamos começam só quando a remuneração para os serviços é determinada pela autoridade e o<br />

mecanismo impessoal do mercado que guia a direcção dos esforços individuais é, desse modo, suspenso».<br />

e) — Aliás, JOÃO CARLOS ESPADA, na obra mais atrás referida e numa argumentação que<br />

subscrevemos inteiramente, acentua ainda que, contrariamente a HAYEK, não vê os mercados como um<br />

produto da evolução espontânea, mas apenas como uma característica, embora uma caraterística crucial, de<br />

uma ordem liberal. Esta ordem liberal pode ser vista como espontânea, não no sentido de que seja um<br />

produto necessário da evolução, mas no sentido de que permite o mais amplo espaço para a acção e a<br />

interacção livres (e não, certamente, comandada) entre os cidadãos. Os mercados são então, <strong>deste</strong> ponto de<br />

vista, aceites e protegidos por causa das virtudes normativas que se revelam nos seus proce-dimentos. Isto<br />

não significa, contudo, que os resultados dos mercados devam ser aceites ou elogiados como veredictos<br />

indiscutíveis de uma lei natural. Os resultados do mercado devem ser discutidos e avaliados de acordo com<br />

standards que não podem ser apenas derivados dos factos. Standards esses que variam muito. Os standards<br />

liberais exigem que aqueles resultados do mercado que evitam que algumas pessoas tenham acesso às<br />

condições mínimas para usar a liberdade não devam ser aceites. Devem ser traçadas políticas intencionais<br />

que habilitem as pessoas a ter acesso a um chão comum de cidadania, um status comum que evite a<br />

exclusão. Neste sentido, os standards liberais implicam uma discussão àcerca do tema da justiça social, isto<br />

é, àcerca de resultados e não apenas àcerca de processos. Mas o seu conteúdo específico é o de que, por<br />

razões normativas, nenhum padrão geral de justiça social deveria ser imposto <strong>ao</strong>s resultados do mercado. Os<br />

standards liberais exigem que a injustiça social, acima de tudo a exclusão, deva ser combatida. Mas,<br />

contrariamente <strong>ao</strong> que argumenta o socialista RAYMOND PLANT, eles não requerem que nenhum padrão<br />

uniforme de distribuição — e certamente não a igualdade, mesmo na sua forma mitigada de igualdade<br />

presumida — seja imposto acima do chão comum da cidadania. Assim, os mercados não são «panaceias»,<br />

como HAYEK por vezes pareceu vê-los, mas também não são um «estorvo», como PLANT por vezes<br />

parece percebê-los. Pode dizer-se que os mercados são instrumentos cruciais das políticas liberais, isto é, de<br />

um projecto liberal de proteger e alargar a liberdade e as oportunidades para todos. ESPADA dá aliás razão<br />

a PLANT, num ponto que parece não ter ficado claro na extensa obra de HAYEK, citando mesmo aquele na<br />

seguinte passagem:<br />

«Os mercados não podem existir num vácuo moral: geralmente, eles pressupõem certos valores, tais<br />

como a honestidade, a contratação justa, o cumprimento das promessas e uma qualquer orientação para o<br />

bem comum e a virtude cívica. Os mais sofisticados primeiros defensores do mercado, tais como ADAM<br />

SMITH, compreenderam isto» — Citizenship, Rights and Socialism, 1988, p. 19.<br />

Não obstante, J.C. ESPADA continua a definir-se, como nós, como um liberal clássico:<br />

«Continuo a definir-me como liberal. Quando muito, se quiser, liberal à moda antiga — na tradição<br />

de JOHN LOCKE, DAVID HUME, ADAM SMITH, EDMUND BURKE, JAMES MADISON,<br />

TOCQUEVILLE e Lord ACTON — para me distinguir do lixo pós-moderno que hoje se reclama do<br />

liberalismo» — jornal Público, de 28 de Abril de 1997.<br />

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