20.04.2013 Views

Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

desse mundo de que somos parte essencial são o objecto, a matéria mental com que articulamos e<br />

tecemos o nos-so encontro.<br />

No fundo, somos animais de pensamento; e o que nos une e move são as ideias. Não as coisas, mas a<br />

ideia que fazemos das coisas; de uma coisa, que ela própria apenas está ou acontece. Para ser<br />

pensada ? Que absurdo ! Não. Porque eu a penso.<br />

Amo quem, uma determinada mulher ? Não; a ideia que dela faço, o significado que ela tem para<br />

mim; ou melhor, ela imbuída do significado que eu lhe dou. E ainda, e muito importante, ela que<br />

mostra desejo, intenção e propósito significadores, ela emissora do significado que me dá, ou eu<br />

imagino que me dá; e me preenche, me significa.<br />

No fundo dos fundos, estou só com a minha imaginação e os meus sentimentos.<br />

O celebrado encontro humano, em realce o amoroso — que nos transporta para além dos bichos —, não<br />

será, em extremo, mais do que uma dança de dois solipsismos.<br />

O amor é, então, um pensamento. Só existe, enquanto se prova — no duplo sentido: se demonstra e se<br />

saboreia. Existência efémera, na prática e presença; mas perene, na recordação e na expectativa — na<br />

representação, ausência e desejo.<br />

E daí, da ausência, da falta, irradia todo o trabalho simbólico e a construção mental. Não simples-<br />

mente imaginário, de repetição/recomposição de imagens; mas construtivo-criativo, de neo-for-mação<br />

de sentidos, que serão semiotizados, assinalados por símbolos — os quais lhes fornecem plasticida-<br />

de/concretitude mental —, para um reencontro alargado e enriquecido com o real. <strong>Um</strong>a vez mais, a<br />

essência teleológica do homem — por isso sonhamos, para isso criamos: nas cavernas, como nas<br />

estações orbitais; com formas e cores, como com conceitos e ideias; nesta sala e dentro da cabeça: com<br />

palavras e com pensamentos.(...)».<br />

E conclui, <strong>deste</strong> modo, o Autor que vimos reproduzindo, o mesmo <strong>texto</strong>:<br />

«(...) Os símbolos, as abstracções — o abstraído —, em conjunção/conjugação com os novos sentidos e<br />

outras configurações, servem-nos para transformar o existente, criar o diferente e transitar para uma<br />

nova experiência e realidade. É assim que fabricamos, em participação com os outros, a nossa<br />

própria evolução e a do mundo em que vivemos. Evoluímos, sobretudo, em cultura; porque<br />

permanente-mente nos construímos e construímos o nosso nicho ecológico. Nada hoje é como ontem;<br />

e será diferente amanhã.<br />

A mudança é o que me motiva, nesta engenharia pensante, em que a incerteza me puxa a intuir o que<br />

está para além do meu conhecimento e depois da consumação do meu desejo.<br />

I have a dream !, gritou LUTHER KING, pela igualdade racial.<br />

Também eu tenho um sonho: o pensamento triunfará. No fim de qualquer viagem, está o projecto de<br />

uma outra. Assim, obrigatoriamente, a cura analítica termina; como coisa viva que é.<br />

A matriz do sonho é a relação. E retomar, relançar relações perdidas ou suspensas, num outro<br />

con<strong>texto</strong>, com novo objecto — ou o objecto renovado pelo trabalho interno da relação — é o<br />

358

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!