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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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uma empresa ou qualquer outra organização, como o próprio Estado: Governo e Administração,<br />

espe-cialmente.<br />

A Catalaxia é, assim, rigorosamente, a estrutura alargada de muitas interrelacionadas economias e<br />

designa a mesma realidade que ARISTÓTELES descreveu como Chrematistike (crematística) ou a<br />

Ciên-cia da Riqueza.<br />

Justamente <strong>ao</strong> contrário do que acontece com a Catalaxia (a Ordem e a Estrutura Económico-Social<br />

Espontâneas do Mercado), convém ter presente o seguinte, que não resistimos a evidenciar.<br />

Lembrando que, com a aproximação da data formal em que se encerra o século, irão surgir exercícios de<br />

selecção dos principais acontecimentos e personagens que deixaram a sua marca ou influência (o que<br />

tem, pelo menos, a utilidade de <strong>fazer</strong> apelo à memória e de permitir compreender o presente paradoxal),<br />

o insuspeito analista político JOAQUIM AGUIAR, no seu <strong>texto</strong> intitulado O Muro de Berlim<br />

(semanário Expresso de 30 de Maio de 1998, pág. 23), selecciona, à sua conta, três marcos com especial<br />

saliência (as trincheiras de Verdun, na fase final da guerra de 1914-18, quando a matança dos heróis em<br />

terra era contemporânea do desenvolvimento da força aérea, o que tornava esse sacrifício absurdo e<br />

confirmava que a estupidez humana não tem limites; o Holocausto, que é a exemplificação definitiva<br />

de que a maldade humana não tem limites; e a queda do Muro de Berlim, que continua a<br />

desmoronar-se no interior das consciências como se fossem réplicas do choque sísmico de 1989-91),<br />

para extrair, em conclusão, a sua tese essencial e lucidamente realista de que, na política (justamente o<br />

3º. nível atrás referido), o sistema não tem limites de estupidez, de maldade e de ilusão:<br />

«(...) Não existindo estes limites, não se pode esperar, muito menos confiar, que o sistema se auto-<br />

regule e que corrija que sua rota porque se aproxima de algum desses limites. Haverá sempre quem<br />

esteja disposto a ser herói num combate absurdo, em que nenhuma das partes pode ganhar. Haverá<br />

sempre quem consiga ir mais longe na destruição da liberdade e da responsabilidade humana. Haverá<br />

sempre quem consiga ter sucesso no prolongamento da ilusão, conduzindo os povos para o abismo em<br />

nome da Terra Prometida. <strong>Um</strong> sistema que não se auto-regula, que não tem limites que lhe corrijam os<br />

excessos, precisa de capacidade e de instrumentos de condução — volante, travões e, obviamente,<br />

condutor que saiba o que está a <strong>fazer</strong> e que tenha sentido de orientação.<br />

É justamente aqui que aparece a responsabilidade política, entendida como a responsabilidade de<br />

regulação de um sistema que não tem limites e que não os respeita, mesmo quando se pretende defini-<br />

los formalmente. É isto que caracteriza a singularidade da responsabilidade política: saber que se opera<br />

num sistema que não tem limites e em que a regulação só pode ser conseguida através da acção<br />

política.<br />

Todas as outras actividades humanas têm limites ou tendem para um limite. <strong>Um</strong> atleta pode melhorar a<br />

marca anterior, mas tende para um limite que não poderá ultrapassar. <strong>Um</strong> delinquente pode multiplicar<br />

os seus actos criminosos, mas tende para o limite em que deixará provas que o incriminem. <strong>Um</strong><br />

investigador científico pode <strong>fazer</strong> avançar as fronteiras do conhecimento, mas ainda está obrigado a<br />

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