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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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«Acho que é um pré-requisito imprescindível para a democracia e a economia de mercado. Há uma<br />

conexão muito clara entre democracia forte e sociedade civil desenvolvida. Onde existe um défice de<br />

confiança, numa sociedade civil pouco desenvolvida, o Estado tende a ser forte, para poder governar<br />

a sociedade atomizada. Esta é uma das razões das dificuldades que se verificaram na<br />

institucionalização da democracia no mundo pós-comunista. Como a sociedade civil é fraca na Rússia,<br />

na Ucrânia e em partes da Europa do Leste, as pessoas não conseguem convergir para empresas<br />

privadas ou partidos políticos, e por isso há um baloiçar constante entre uma situação política<br />

anárquica e um Estado excessivamente autoritário. O comunismo destruiu a sociedade civil nos países<br />

de Leste, e só é possível ter um Estado relativamente fraco onde haja uma sociedade civil muito forte».<br />

Aliás, FUKUYAMA, na sua última obra atrás referida, reitera a tese, formulada já em O Fim da<br />

História e o Último Homem, citado na Bibliografia Anexa, mas complementando-a agora em termos de<br />

uma co-existência entre Modernidade e Tradição.<br />

Diz, designadamente, o seguinte (pág. 331 e seguintes):<br />

«Como já disse algures, a convergência mundial de instituições fundamentais em torno da democracia<br />

liberal e das economias de mercado coloca-nos a questão de sabermos se atingimos, de facto, um “fim<br />

da história”, com o vasto processo de evolução histórica da humanidade a culminar, não no<br />

socialismo, como reza a versão marxista, mas sim na visão hegeliana de uma sociedade burguesa<br />

democrático- -liberal».<br />

(...) «Por outro lado, os observadores e teóricos que mais reflectiram sobre o liberalismo político<br />

compreenderam que tal doutrina, pelo menos na forma que lhe foi conferida por HOBBES e por<br />

LOCKE, não possui uma base suficiente de sustentação, necessitando, pois, para o efeito, do apoio de<br />

determinados factores da cultura tradicional não gerados pelo liberalismo».<br />

(...) «<strong>Um</strong>a argumentação semelhante poderá ser feita relativamente <strong>ao</strong> liberalismo económico. É<br />

incontestável que as economias modernas nascem da interacção nos mercados de indivíduos<br />

racionais preocupados com a optimização do interesse. Mas a optimização racional do interesse não é<br />

suficiente para explicar, cabal ou satisfatoriamente, a razão da prosperidade das economias bem<br />

sucedidas ou porque caem as mal sucedidas na estagnação e declinam. Os níveis de valoração do<br />

trabalho face <strong>ao</strong> lazer, o respeito pela educação, as atitudes perante a família e o grau de confiança<br />

das pessoas nos seus semelhantes são todos factores com impacto directo na vida económica e, no<br />

entanto, não é possível explicá-los adequadamente em termos do modelo básico do homem avançado<br />

pelos economistas. Tal como a democracia liberal funciona melhor, enquanto sistema político, quando<br />

o seu individualismo é moderado pelo espírito público, também o capitalismo encontra menos<br />

obstáculos quando o seu individualismo é contrabalançado por uma aptidão para o espírito<br />

associativo.<br />

Se a democracia e o capitalismo funcionam melhor quando fermentados por tradições culturais que<br />

nascem de outras fontes, que não as liberais, tudo indica então que modernidade e tradição podem<br />

coexistir, em equilíbrio estável, durante largos períodos de tempo».<br />

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