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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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«As recentes discussões a respeito dos referendos lançam finalmente entre nós o debate público sobre os<br />

méritos relativos dos dois princípios de legitimidade democrática: o princípio da representação, que<br />

legitima os representantes eleitos a legislarem em nome dos cidadãos (democracia representativa); e o<br />

princípio da participação, que legitima os cidadãos a tomarem nas suas mãos, por iniciativa directa, a<br />

promulgação ou a anulação de legislação (democracia directa ou participativa). Este debate pode ser<br />

muito positivo para a democracia portuguesa se contribuir para mostrar a autonomia relativa, a<br />

complementaridade e as tensões entre os dois princípios. Pode, pelo contrário, ser muito negativo se<br />

promover a ideia da sobreposição e da acomodação de conveniência entre os dois princípios. No<br />

primeiro caso, o debate contribuirá para ampliar a nossa prática democrática, e, no segundo, para<br />

restringi-la».<br />

Dentro <strong>deste</strong> espírito, estar-se-ia já, numa atitude mais moderada e prudente, a considerar que a<br />

participação que se tem em vista já é, afinal, uma forma da que atrás designámos por participação<br />

democrática ou comunitária «GLOBAL» e que, embora não se esgotando na prática dos<br />

«Referendos», nem se confrontando com, ou subsituindo conflituosamente, o Princípio da<br />

Representação, sem dúvida que pode ter neles (além da quotidiana participação comunitária «global»,<br />

que se exerce quotidianamente na constituição «espontânea» da vida normativa e da consciência<br />

cultural e normativa comum, ou de uma opinião pública democrática) uma oportunidade e ocasião<br />

políticas formais de se exercer.<br />

Mas, em Portugal, com um Estado-de-Partidos, ou uma Partidocracia, e um Estado-de-Legalidade,<br />

como o é o regime que aí temos instalado, talvez seja essa a razão porque BOAVENTURA conclui<br />

pessimísticammente assim esse <strong>texto</strong>:<br />

«(...) Resta saber se os parlamentares não estão mesmo interessados em desacreditar o referendo<br />

para, depois de um breve sobressalto, recuperarem o monopólio democrático, colhendo todos os<br />

benefícios de uma representação difusa sem arcarem com os custos de uma representação<br />

limitada».<br />

Isto, independemtemente de — a propósito da problemática da correcta ou abusiva utilização desse<br />

instrumento de democracia directa ou paticipativa que é o «Referendo», no momento em que<br />

escrevemos estas linhas, tendo no horizonte temporal a perspectiva de dois Referendos sobre matérias<br />

concretas e específicas — o da Regionalização e o da Europa —, não podermos deixar de estar de<br />

acordo, aqui excepcionalmente, com uma pessoa de que divergimos como a noite do dia, quanto a<br />

pressupostos po-lítico-doutrinários e ideológicos, apesar e para além do seu quase unânimemente<br />

indiscutido mérito literário, agora universalmente reconhecido, em representação da Língua<br />

Portuguesa, com a atribuição do Prémio Nobel da Literatura de 1998: referimo-nos obviamente a<br />

JOSÉ SARAMAGO —, quando, no mesmo número da mesma revista acima referida, considera que o<br />

referendo sobre as Regiões lhe mereceria o cognome de «Absurdo» e o referente à Europa o de<br />

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