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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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Como diz este autor: «(...) No entanto, ninguém pode contestar a verdade que há muito tem sido<br />

evitada: os magistrados, como homens que são, não podem estar acima de qualquer suspeita. Muito <strong>ao</strong><br />

contrário, porque quanto mais ilimitado é o poder, como é o poder judicial em Portugal, mais manifesto<br />

se apresenta o perigo dos consequentes abusos. A famosa frase subentende a necessidade de uma<br />

vigilância constante e recíproca entre todos os poderes e não a admissão inquestionável da autoridade de<br />

cada po-der, sob o pre<strong>texto</strong> do respeito pela inviolabilidade da autonomia de cada um, como pressupõe a<br />

exaltada e ilícita reacção dos magistrados. Reagir assim, indicia até um sentimento de insegurança<br />

incompatível com a serenidade de quem não tem culpa e com a vocação da própria profissão: descobrir a<br />

verdade».<br />

A estes e a similares problemas nos tínhamos referido já no nosso anterior trabalho intitulado Comuni-<br />

dade de Direito e Liberdade, 1995.<br />

Do mesmo modo, BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS, discursando no Supremo Tribunal de<br />

Justiça, a 28 de Maio de 1997, segundo notícia do semanário Expresso (caderno principal, pág. 16), de 31 de<br />

Maio de 1997, terá dito:<br />

«É preciso aumentar a qualidade do sistema de controlo dos juízes (...). Não faz sentido a manuten-<br />

ção de interesses corporativos».<br />

E ainda: «Está-se a generalizar o discurso defensivo, o atirar culpas para o lado. Temos de assumir<br />

responsabilidades; ter um discurso de humildade (...) e, sobretudo, não atacar ninguém».<br />

Aquele sociólogo, coordenador responsável pelo estudo mais aprofundado até hoje feito sobre os<br />

tribunais portugueses, terá salientado ainda:<br />

«Temos de criar outra cultura judiciária: o juíz não pode ser o intocável na sua aura e não ter culpa<br />

de nada. Os portugueses nem sequer interiorizaram o princípio da independência dos juízes» — acres-<br />

centando que só pode defender-se os interesses dos cidadãos «... mostrando-lhes que essa independên-<br />

cia está <strong>ao</strong> seu serviço e não <strong>ao</strong> serviço de interesses corporativos».<br />

Também falando <strong>ao</strong> nível da realidade prática de todos os dias, diz lucidamente ANTÓNIO<br />

BARRETO, a concluir a sua crónica dominical do jornal Público de 16 de Novembro de 1997, intitulada<br />

desta vez Quentes e boas ! Mas não para todos, sobre o pano de fundo do mais recente conflito institucional<br />

entre o poder político e o poder judicial, subsequente à 4ª. Revisão Constitucional:<br />

«(...) A crispação entre os políticos e os juízes teve consequências funestas. Primeira: a revisão consti-<br />

tucional aumentou a tutela partidária. Segunda: os magistrados fizeram o quadrado defensivo. Terceira:<br />

o presidente do Supremo demitiu-se. Até agora, creio que a população só perdeu. Os políticos contentam-<br />

se com mais poder formal: não acredito que, só por terem a maioria do Conselho Superior, façam a<br />

legislação processual que adiaram durante duas décadas. Mas a magistratura, para todos os efeitos, perdeu<br />

independência. E a ineficácia do sistema judicial manteve-se: para muitos juízes, independência e<br />

imobilismo são sinónimos. <strong>Um</strong>a coisa me parece certa: as deficiências da justiça constituem talvez o mais<br />

poderoso obstáculo à democracia, às liberdades, <strong>ao</strong> mercado e à justiça social» — Nota: Entretanto,<br />

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