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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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mesmo que admitamos em princípio que ela pode ruir; ou confiamos na perícia dos construtores dos nossos<br />

automóveis, no desenho e projecto das nossas autoestradas, dos sistemas de semáforos, na manutenção das<br />

estradas e eficiência dos computadores que controlam o tráfego, na tecnologia dos aviões e na perícia dos<br />

aviadores, etc.<br />

GIDDENS considera que a confiança — trust —, que distingue de confidence e que define como a<br />

segurança (confidence) na fiabilidade (reliability) de uma pessoa ou de um sistema, em vista de um certo<br />

conjunto de resultados ou de eventos, na medida em que essa confiança expressa uma fé (faith) na<br />

probidade ou amor de outrém ou na correcção de princípios abstactos (conhecimento técnico) — está<br />

envolvida de um modo fundamental nas instituições da Modernidade e analisa a sua inelutável dialéctica<br />

com o risco e o perigo, em condições modernas.<br />

Mas ainda sobre a temática do dinheiro (o «vil metal», como lhe chama certa linguagem popular e<br />

moralista) — e tendo presente o ódio <strong>ao</strong> dinheiro, como sinal anti-moderno, que é alimentado tanto pelo<br />

Catolicismo, como pela Esquerda Clássica, como por certa Direita Justicialista — ocorre-nos referir a<br />

seguinte passagem do excelente <strong>texto</strong> de FRANCISCO SARSFIELD CABRAL, intitulado A direita e o<br />

dinheiro, publicado no jornal Público de 2 de Maio de 1998, a propósito de uma certa «esquerdização»<br />

populista do discurso político do P.S.D. mais recente:<br />

«(...) A perplexidade de algumas pessoas perante afirmações <strong>deste</strong> tipo resulta de que a velha<br />

dicotonomia esquerda-direita não chega para compreender o fenómeno populista, até porque as relações<br />

entre a direita e o dinheiro não são simples. Estre os muitos estragos que a “vulgata” marxista fez na<br />

cultura política europeia conta-se uma esquemática visão das relações entre o poder económico e a políti-<br />

ca. Daí, por exemplo, a errada convicção de que a extrema-direita não seria mais do que a arma política<br />

do grande capital, que puxaria os cordelinhos dos ditadores e dos aspirantes à função. Este simplismo foi<br />

trágico com HITLER, fenómeno que o marxismo nunca entendeu, e impediu muita gente de perceber<br />

quanto existia de genuinamente anti-capitalista nos movimentos de extrema-direita. Recorde-se que o<br />

ódio à plutocracia (...) era já cultivado pela Action Française, com a sua nostalgia da ordem corporativa<br />

medieval e o seu programa anti-moderno, que o regime de Vichy tentou traduzir em leis. E SALAZAR<br />

(admirador da Action Française), não sendo em rigor um fascista, por algum motivo desconfiava do<br />

desenvolvimento económico, esse grande desestabilizador, preferindo-lhe uma honesta e pacata pobreza.<br />

Aliás, a palavra “socialismo” do “nacional-socialismo” não era um mero dirfarce, pelo menos no início<br />

do poder nazi; traduzia uma real aversão à civilização capitalista.<br />

O sentimento anti-burguês, anti-plutocrata, não é, pois, um exclusivo da esquerda clássica.<br />

Alimentou as reacções de massa contra a modernização capitalista, que assumiram formas fascistas na<br />

primeira metade do século e encontra-se também no populismo, antigo e actual. Hoje, a economia<br />

globalizada e a informática vão destruindo o que restava da vida estável e comunitária pré-capitalista. O<br />

pequeno comércio vive aflito com o avanço das grandes superfícies e das novas modalidades de<br />

distribuição; e já ninguém se sente seguro no seu emprego, quando o tem. O terreno está, assim, de novo<br />

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