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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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satis<strong>fazer</strong> a exigência Herderiana de que à vida comum dos povos ou das culturas seja dado<br />

reconhecimento e protecção. O projecto orientador do pluralismo é o de que diferentes culturas<br />

devem conviver na Terra em paz, sem renunciar às suas diferenças. Como é adequado a um tal<br />

projecto, as instituições pelas quais se fará isso serão diversas e variáveis, mudando com as<br />

circunstâncias e as necessidades das comunidades implicadas. Para muitos países ocidentais, essas<br />

instituições serão as de uma sociedade liberal, emendada e reformada para reflectir a realidade<br />

contemporânea da diversidade cultural; mas nenhumas pretensões universalistas serão feitas em apoio de<br />

tais experiências de modus vivendi».<br />

GRAY diz ainda que, nesta perspectiva, deve resistir-se a projectos liberais ocidentais, tais como o<br />

GATT, que ambicionam sujeitar todas as culturas e comunidades humanas à hegemonia da tecnologia<br />

ilimitada e das instituições globais de mercado, tal como são presentemente encorpadas no<br />

capitalismo ocidental. Em geral, o respeito pela integridade das culturas e pelas suas diferenças<br />

implica uma visão das instituições políticas em que estas tenham a tarefa de abrigar os arranjos<br />

humanos da homogeneidade cultural empobrecedora que, de outro modo, lhes seria imposta pelos<br />

imperativos globais da tecnologia e das instituições de mercado. Daí que faça uma aplicação do<br />

pensamento da Gelassenheit heideggeriana à nossa situação, a respeito da Terra (Gaia) e da<br />

possibilidade do nosso conviver em paz dentro dela, como abertura mesmo à possibilidade de que a<br />

vida na Terra não possa ser renovada sem uma catástrofe para a espécie humana e de que a tradição<br />

ocidental não possa ser renovada. Todavia, não está assegura-da sequer a possibilidade de as tradições<br />

ocidentais se renovarem e de ser abandonada a vontade de poder do humanismo ocidental de submeter a<br />

Terra e as suas outras formas de vida, naturais e culturais, à dominação tecnológica. Não o sendo,<br />

qualquer prospectiva de recuperação cultural do niilismo, que o Iluminismo disseminou, só pode contar<br />

com os povos não-ocidentais. Mas pode também acontecer que, mesmo aquelas culturas não-ocidentais<br />

que se modernizaram sem assimilarem globalmente a ocidentaliza-ção, tenham elas próprias também<br />

assimilado demasiado da relação niilista ocidental com a tecnologia e com a Terra, para que uma<br />

viragem na relação do homem com a Terra seja uma possibilidade real. Se assim for, então seria<br />

consonante com o sentido do «deixar-ser» (Gelassenheit) invocado manter uma abertura mesmo<br />

para o perigo último, para a contingência e mortalidade, não apenas das culturas humanas e de<br />

outros seres viventes, mas também da própria Terra (Gaia).<br />

g) — Já por outro lado, ANTHONY GIDDENS, em The Consequences of Modernity, já citado, entende,<br />

como já vimos, que nós ainda não vivemos num mundo pós-moderno:<br />

«As características distintivas das nossas principais instituições sociais, nos anos finais do século XX,<br />

sugerem que, mais do que entrarmos num período de pós-modernidade, nos estamos a mover para<br />

um período de “alta modernidade”, em que as consequências da modernidade se estão a tornar<br />

mais radicalizadas e mais universalizadas do que antes. <strong>Um</strong> universo social pós-moderno pode<br />

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