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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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que quanto mais se precipitam nessa cultura mais verificam a sua incapacidade para preencher a<br />

falta de sentido de que sofrem.<br />

No entanto, repugna-lhes ter de conformar as suas crenças a qualquer ortodoxia institucional. Os<br />

grandes sistemas religiosos, com as suas verdades oficiais e com especialistas autorizados na guarda<br />

e controlo das mesmas, têm crescentes dificuldades em se <strong>fazer</strong> respeitar. A religião, marcada pelo<br />

extremo individualismo da modernidade, está a deslocar-se cada vez mais para o terreno privado,<br />

deixando as mediações institucionais para um plano secundário. Muita gente é mais atraída pela<br />

possibilidade de escolher livremente e até de recompor — com empréstimo de tradições e correntes<br />

diversas — o sistema de significações ajustado à sua experiência individual do que ser fiel à<br />

integralidade de uma<br />

Igreja.<br />

Mais ainda, o fenómeno religioso, em certos con<strong>texto</strong>s socioculturais, existe de forma dissemi-nada,<br />

fora de qualquer pertença estável a uma religião com contornos rigidamente definidos.<br />

Tudo isto para dizer que o facto propriamente novo, do ponto de vista da modernidade, não consiste<br />

na diminuição da religião, mas na sua «Desregulação». Tentar discipliná-la, até <strong>ao</strong> último pormenor,<br />

como acaba de acontecer na “Instrução” de oito dicastérios da Curia Romana “sôbre algumas questões<br />

acerca da colaboração dos leigos com o ministério dos padres”, contraria radicalmente essa tendência.<br />

A questão está em saber se o melhor método é corrigir um excesso com outro».<br />

E é ainda Frei BENTO DOMINGUES, O.P. quem, num outro <strong>texto</strong> intitulado Ciência e Religião:<br />

Relações Complicadas, publicado no jornal Público de 17 de Maio de 1998, escreve o seguinte a<br />

propósito das Três Atitudes Típicas que, entre os crentes, se tomam em relação <strong>ao</strong> relacionamento entre<br />

Religião e Ci-ência Moderna:<br />

«(...) Diria, de forma telegráfica, que a primeira é de indiferença e de ignorância mútua. A teologia e as<br />

ciências da natureza ou do homem não teriam nada a ver umas com as outras. Quem acolhe com fé, lê e<br />

interpreta o <strong>texto</strong> bíblico não se deve importar com os resultados das ciências. A intervenção de Deus no<br />

mundo não pode <strong>fazer</strong> parte de um tratado científico e, quando as ciências e a fé usam as mesmas<br />

palavras, nunca é no mesmo sentido.<br />

A segunda atitude hierarquiza os saberes. A teologia — saber sobre Deus à luz da revelação recebida<br />

na fé — é superior a qualquer ciência, tanto pela sua fonte como pelo seu objecto. O conhecimento<br />

científico deve, por isso, estar <strong>ao</strong> serviço da fé. É a via do “concordismo”, actualmente ilustrada por uma<br />

corrente fundamentalista norte-americana, o criacionismo. Tenta <strong>fazer</strong> corresponder os dados da ciência<br />

— quanto às eras geológicas e à evolução das espécies — com as narrativas bíblicas da Criação.<br />

<strong>Um</strong>a terceira atitude propõe uma relação de diálogo. Reconhece a importância e a diversidade das<br />

formas de conhecimento. Defende que o relacionamento entre elas é de interesse recíproco. Note-se,<br />

porém, que a palavra diálogo encobre aqui alguns equívocos. Está aplicada a convicções muito distintas:<br />

de convergência, de complementaridade, de interacção ou colaboração.<br />

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