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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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eciprocidade, com a obrigação moral, com o dever para com a comunidade e com a confiança,<br />

conceitos e valores mais baseados no hábito do que em cálculos racionais. Não são anacronismos<br />

numa sociedade moderna, são antes a condição sine qua non do sucesso desta última».<br />

Neste <strong>livro</strong> se demonstra também como, apesar da ideia-feita de que os E.U.A. são, essencialmente, uma<br />

sociedade fortemente individualista, a verdade é que o que os norte-americanos são é fortemente anti-<br />

estatistas e liberais, desconfiando, tanto à direita, como à esquerda, do «Senhor Governo» e do excesso<br />

de regulamentações; o autor defende que, tanto o individualismo, como o comunitarismo, no sentido do<br />

importante relêvo que têm os inúmeros «corpos intermédios» da sociedade civil, fazem parte da<br />

tradição norte-americana, radicando, simultaneamente, no liberalismo anglo-saxão (que se filia em<br />

THOMAS HOBBES, JOHN LOCKE, THOMAS JEFFERSON, nos Founding Fathers, na Declaração<br />

de Independência e na Carta de Direitos da Constituição, linha para a qual os deveres derivam dos<br />

direitos e estes são pertença de indivíduos isolados e auto-suficientes), na tradição judaico-cristã<br />

(comum a outros países ocidentais, que coloca Deus na posição de um legislador omnipotente e<br />

transcendente, cuja palavra é superior a qualquer tipo de relações sociais existentes) e na Reforma<br />

Protestante (que veio reabrir a possibilidade de uma relação não mediatizada entre a consciência<br />

individual e Deus, podendo aquela rejeitar a lei ou a ordem injustas em nome da lei superior de Deus),<br />

que culminou no «protestantismo sectário» especificamente americano, com as suas múltiplas seitas; e<br />

tendo os E.U.A., em comparação com os países europeus e com o Japão, um relativamente pequeno<br />

sector público da economia; mas tendo afinal fortes tradições associativistas, comunitaristas e de<br />

formação de muitas e avulsas comunidades espontâneas que, com a tradição de um forte sector<br />

privado da economia, constituído por grandes empresas e grandes sindicatos, fortalecem enormemente<br />

uma sociedade civil adulta e responsável: estas tendências já tinham sido postas em relêvo por ALEXIS<br />

DE TOCQUEVILLE e por MAX WEBER, embora, segundo o autor, depois dos anos 60 e,<br />

particularmente nas duas últimas gerações, estas sejam virtudes que, enquanto constitutivas do que o<br />

autor chama de capital social de confiança, começaram a entrar em crise, surgindo agora<br />

frequentemente formas de individualismo verdadeiramente anti-social, que têm expressão, por<br />

exemplo, na tendência para «reduzir» as relações sociais espontâneas a estritas «relações jurídicas»<br />

legalmente regulamentadas.<br />

Aliás, este mesmo Autor distingue também três níveis ou vias de sociabilidade (cfr. obra referida, pág.<br />

70):<br />

«Há três grandes vias para a sociabilidade: o primeiro é baseado na família e no parentesco; o segundo<br />

assenta nas associações voluntárias não ligadas a qualquer forma de parentesco, como, entre outras, as<br />

escolas, os clubes e as organizações profissionais; o terceiro é baseado no Estado. Há três formas de<br />

organização económica correspondentes a cada uma das referidas vias: a empresa familiar, a sociedade<br />

gerida profissionalmente e a companhia estatal ou de participação estatal. A primeira e a terceira vias<br />

estão, de facto, muito interligadas: as culturas em que a via dominante para a sociabilidade é a família e<br />

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