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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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«(...) No ponto em que bateu o ensino em Portugal, já não se sabe o que mais admirar: se a catástrofe em<br />

si mesma, se a naturalidade com que os responsáveis falam dela, se os expedientes que inventam para<br />

disfarçar os seus efeitos demolidores».<br />

Para concluirmos, por agora esta alínea, veja-se a desmistificante crítica de M. FÁTIMA BONIFÁ-CIO,<br />

no <strong>texto</strong> intitulado A «comunidade educativa» ou o novo soberano, publicado no jornal Público de 15 de<br />

Fevereiro de 1998, onde se explica o que significa realmente o conceito (diferente do sentido com que<br />

atrás usámos de similar expressão) de comunidade educativa, na nova «filosofia oficial» do Ministério<br />

da Educação, de inspiração rousseauneana e defendida amplamente pela nossa «esquerda<br />

igualitária».<br />

Diz a autora a concluir:<br />

«(...) A actual “filosofia educativa” participa, como não custa a compreender, dos valores da cultura<br />

dominante do nosso tempo, de que ROUSSEAU é, a diversos títulos, um dos pais fundadores. Essa<br />

cultura valoriza a sensibilidade e a emotividade através das quais se revelam, na pureza virginal dos<br />

sentimentos, a bondade radical e a igualdade essencial dos homens. O que é preciso é não tolher o<br />

desenvolvimento espontâneo de cada um e dar a todos a oportunidade de escutar, e <strong>fazer</strong> ouvir, os<br />

acordes da sua preciosa melodia, contribuindo <strong>deste</strong> modo para enriquecer a harmonia universal.<br />

Segundo esta ideologia, não há motivo para que aprender e crescer não seja um processo<br />

perfeitamente indolor, e, portanto, para que a escola não seja um recreio permanente. Não se nega<br />

que a disciplina seja precisa, mas acredita-se, contra toda a evidência em contrário, que ela é um<br />

instinto que apenas reclama, para desabrochar, um enquadramento adequado a libertá-lo. Para isso<br />

mesmo vem aí, <strong>ao</strong> que parece, a comunidade educativa».<br />

Antes, porém, a autora explicara este conceito de «comunidade educativa», agora oficialmente proposto:<br />

seria uma comunidade «... em que pais, alunos e professores são chamados a participar, em pé de<br />

igualdade, na vida da escola, insuflando uma benéfica vitalidade democrática onde tem reinado o<br />

individualismo feroz dos professores e onde perdura o espírito burocrático do salazarismo».<br />

Assim:<br />

«A ideia é a de que a participação colectiva assegura a responsabilização de todos e de cada um, o<br />

que, por seu turno, torna a obediência tão suave que por assim dizer se não discrimina do mando.<br />

Como na república de ROUSSEAU, cujo modelo subjaz proclamadamente à comunidade educativa que<br />

agora se pretende criar, os governantes não se diferenciam dos governados, porque todos são<br />

soberanos enquanto co-autores das leis de que eles próprios são destinatários e, portanto,<br />

voluntários e empenhados executores» — os bold e os itálicos são nossos.<br />

Este <strong>texto</strong> tem por referência crítica o artigo de A. M. MAGALHÃES e S. R. STOER, intitulado<br />

justamente: Orgulhosamente filhos de Rousseau e publicado no jornal Público de 4/01/98.<br />

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