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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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Revista de 14 de Setembro de 1996, <strong>texto</strong> intitulado <strong>Um</strong>a virtude em crise, mas não assinado, de que<br />

extraímos a seguinte passagem:<br />

«(...) Na esteira de MAX WEBER e ÉMILE DURKHEIM, o autor nipo-americano reconhece que há<br />

um elemento irracional que determina a acção humana: a confiança. E sabe quantificá-lo: 20% das<br />

nossas actividades económicas são baseadas na confiança. (...).<br />

(...) O que é que se quer provar ? Em primeiro lugar, que a confiança é um pré-requisito para a criação<br />

de capital social, ou seja, a capacidade das pessoas se associarem em organizações fora do âmbi-to<br />

familiar. Sem confiança, não há sociedade civil, nem empresas saudáveis, e crescem as possibilidades<br />

de se constituir um Estado autoritário e centralizado. Há sociedades de confiança elevada e de<br />

confiança reduzida: a Alemanha e a Inglaterra estão no primeiro grupo, a França e a Itália (bem como<br />

Portugal) no segundo grupo. A religião católica, com as suas restrições morais em relação <strong>ao</strong> lucro, e<br />

o legado cultural romano, que teve a sua expressão no familismo das sociedades mediterrânicas (o<br />

que EDWARD BANFIELD, em The Moral Basis of a Backward Society, 1958, chamou de<br />

«familiarismo amoral», a propósito do Mezzogiorno italiano, onde os grupos comunais mais fortes são<br />

as «comunidades de delinquentes», como a Mafia, a ‘Ndrangheta ou a Camorra) são considerados<br />

malfeitores que impediram a criação de uma sociedade de confiança elevada. O calvinismo, continua<br />

FUKUYAMA sem surpresas, valorizava os aspectos mais racionais e materialistas das nossas<br />

actividades económicas.<br />

Encontramos uma distinção semelhante entre sociedades de elevada e reduzida confiança no Extremo<br />

Oriente, onde o Japão, com a sua estrutura empresarial muito particular do “zaibatsu”, conta como um<br />

exemplo de confiança elevada, e a China, considerando o familismo e a tradição do Estado despótico, é<br />

nesta perspectiva uma sociedade de reduzida confiança. Por fim, faz notar que os E.U.A., pátria do<br />

individualismo, também tem todas as características de uma sociedade de confiança elevada, sendo<br />

porém uma virtude actualmente em crise. (...)» - os itálicos são todos nossos.<br />

E, no mesmo local, na entrevista que antecede o <strong>texto</strong> anterior, perguntado explicitamente pelo<br />

Expresso:<br />

«No seu <strong>livro</strong> faz uma distinção entre sociedades de confiança elevada e de confiança reduzida e, na<br />

esteira de WEBER, estabelece um nexo entre grau de confiança e tipo de religião. As sociedades<br />

católicas devem ser definidas como sociedades de confiança reduzida ?» — FUKUYAMA respondeu:<br />

«Não necessariamente. O familismo, que marca a sociedade italiana e, suponho, também a espanho-la<br />

e a portuguesa, tem origem católica, mas também latina. Mas em outros países ou regiões católicas,<br />

como a Irlanda, o Sul da Holanda e o Sul da Alemanha, o familismo está praticamente ausente.<br />

Todavia, existe uma diferença cultural, caracterizada pela excessiva concentração de relações de<br />

confiança no seio da família, o que facilita a existência de uma moral dupla e, finalmente, a<br />

corrupção política».<br />

Mas já mais atrás, à pergunta: «Qual é a relação entre confiança, democracia e economia de mer-cado<br />

?» — FUKUYAMA respondera:<br />

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