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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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seus dados instintivos, uma boa soma de agressividade. Para ele, por consequência, o próximo não é<br />

apenas um auxiliar e um objecto sexual possíveis, mas também um objecto de tentação. O homem é, com<br />

efeito, tentado a satis<strong>fazer</strong> a sua necessidade de agressão às custas do seu próximo, a explorar o seu<br />

trabalho sem compensação, a utilizá-lo sexualmente sem o seu consentimento, a apropriar-se dos seus<br />

bens, a humilhá-lo, a inflingir-lhe sofrimentos, a martirizá-lo, e a matá-lo. Homo homini lupus: quem<br />

teria a coragem, em face de todos os ensinamentos da vida e da história, de se opôr frontalmente a esse<br />

adágio ? Regra geral, esta agressividade cruel, ou bem que aguarda uma provocação, ou bem que se põe<br />

<strong>ao</strong> serviço de um qualquer desígnio cuja finalidade seria do mesmo modo possível por meios mais<br />

suaves. Dentro de certas circunstâncias favoráveis, em compensação, quando por exemplo as forças morais<br />

que se opunham às suas manifestações e até aí as inibiam, são postas fora de acção, a agressividade<br />

manifesta-se também de forma espontânea, desmascara sob o homem a besta selvagem que perde então<br />

todo o respeito pela sua própria espécie. Quemquer que possa evocar na sua memória os horrores das<br />

grandes migrações dos povos, ou os da invasão dos Hunos, ou os cometidos pelos famosos Mongóis de<br />

GENGIS KHAN ou de TAMERLAN, ou os que ocorreram aquando da tomada de Jerusalém pelos piedosos<br />

cruzados, sem esquecer, enfim, os da última guerra mundial, deverá inclinar-se diante desta nossa concepção<br />

e reconhecer-lhe o bem fundado».<br />

Por isso, FREUD, no mesmo <strong>texto</strong>, um pouco antes, dissera:<br />

«É de sempre que existem na conduta dos homens diferenças que, sem levar em conta ou<br />

colocando-nos por de cima das condições de que elas dependem, a ética reconduz a duas categorias: a do<br />

“bem” e a do “mal”. Elas são irrecusáveis; mas tanto quanto elas não forem suprimidas, a obediência às<br />

leis éticas superiores conservará a significação de um defeito da própria civilização, porque essa<br />

obediência encoraja directamente a maldade».<br />

E a tal ponto é importante esta dualidade e oposição de Pulsões ou Instintos, que ela oferece, a nosso<br />

ver, o fundamento para <strong>Um</strong>a «Ética» Possível:<br />

Assim:<br />

a) — O Mal, no homem, é o que SIGMUND FREUD chamou a Pulsão de Morte (Thanatos): a<br />

Pul-são regressiva e destruidora que, tendendo a reduzir a matéria viva à sua condição primitiva de matéria<br />

inerte e inorgânica, se pode traduzir, visivelmente, tanto em regressão psicológica, em autopunição, em<br />

masoquismo, em excessiva auto-censura, em radical negatividade (e no consequente Niilismo), em auto-<br />

-depreciação, em depressividade, em desagregação psíquica e divisão, bem como, no limite, em suicídio;<br />

como também em agressividade externa, hostilidade, ódio, conflito, antissocialidade activa, sadismo,<br />

violência, destruição, assassínio e, porventura, em guerras.<br />

A Pulsão de Morte (Thanatos) é «... uma compulsão inerente, na vida orgânica, para recuperar<br />

um anterior estado da coisas que a entidade viva fora obrigada a abandonar, sob a pressão de<br />

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