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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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d) — A alternativa a esta mentalidade colectivista é, para OAKESHOTT, em primeiro lugar, um<br />

regresso à tradição do governo limitado, em que não esperamos do Estado mais do que ele nos pode<br />

dar; a função do governo é apenas governar (to rule), que é uma específica e limitada actividade,<br />

facilmente corrompida quando é combinada com qualquer outra; a função do ru<strong>ler</strong> é administrar as<br />

regras do jogo (the rules of the game), ou a do moderador de um debate que o governa e regula de<br />

acordo com regras conhecidas, mas que não participa ele próprio no debate.<br />

No aspecto moral, a civil association é aquele modo de associação que exemplariza a individualidade<br />

— a condição em que os seres humanos aceitam e celebram a sua autonomia, separação e mortalidade.<br />

Na sua dimensão política, a civil association é caracterizada pela dispersão do poder pela sociedade —<br />

através de uma estrutura complexa de instituições contra-balanceadas, do género precisamente das que<br />

são ameaçadas pelos projectos colectivistas contemporâneos (de Direita e de Esquerda) de transformar o<br />

governo numa enterprise association.<br />

e) — JOHN GRAY identifica a civil association como o terreno mais fértil <strong>ao</strong>nde lançou raízes e de<br />

onde emergiu toda a teorização liberal e como o elemento mais válido e durável desta, que permite<br />

expurgá-la de excrecências posteriores dispensáveis e que só a enfraquecem. E vê a civil association<br />

como a mais apropriada e apelativa concepção para aquelas sociedades pelo mundo fora que, sob os<br />

choques da Modernidade, estão descobrindo a necessidade de forjarem uma sociedade civil liberal onde<br />

não existia nenhuma, ou em restaurá-la onde (como nos países ex-marxistas) ela foi reprimida ou<br />

praticamente destruída. A ideia de civil association, apesar de repudiar a pretensão doutrinal liberal a<br />

uma autoridade universal, tem contudo <strong>ao</strong> mesmo tempo uma projecção muito para além das tradições<br />

culturais que lhe deram nascimento. Quanto às sociedades ocidentais de democracia liberal e de Estado<br />

Moderno, os danos causados à vida prática pela hybris e ilusão racionalista, em que falsa teoria e prática<br />

decadente são complementares e mutuamente se suportam, a esperança está, não em olhar para trás, mas<br />

para a frente —para uma condição de pós-modernidade, em que o que resta da vida tradicional seja<br />

preservado no con<strong>texto</strong> de uma nova auto-compreensão, o que depende mais de uma alteração do nosso<br />

modo-de-vida do que de avanços numa qualquer investigação filosófica. As nossas sociedades já não são<br />

unificadas por uma única tradição cultural, mas por muitos diferentes modos-de-vida. Temos portanto de<br />

dar as boas-vindas à diversidade cultural, mas confrontarmo-nos com a tarefa de manter a sociedade<br />

civil sem grande ajuda dos recursos da tradição cultural que lhe deu nascimento e sustentou a sua<br />

maturidade; antes temos de teorizar a nossa circunstância como habitantes de uma sociedade que abriga<br />

uma diversidade de tradições, ligadas umas às outras por semelhanças de família e pelo instável<br />

capital comum de práticas partilhadas na frágil paz da civil association.<br />

f) — Como Observação Final deixamos apenas a pergunta de se, apesar do enorme potencial crítico do<br />

conceito de civil association face <strong>ao</strong> excessivo social-estatismo contemporâneo, não será, de certo<br />

modo, um destino inexorável das nossas sociedades hipercomplexas (em mutação ace<strong>ler</strong>ada e em grande<br />

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