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Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

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da Nação, por um lado e, por outro, uma defesa cega e acirrada das forças do mercado, as mesmas que,<br />

como já KARL MARX intuíra, justamente destroem aqueles valores), perguntando porque o Labour<br />

não avança e não ocupa o terreno do centro conservador que a Direita tornou impossível de ser<br />

defendido pelos Tories ?<br />

Salienta ainda que, hoje, o discurso comunitarista, à direita e à esquerda, não faz sentido em face de<br />

duas realidades que aí estão presentes e que são incontornáveis: o novo individualismo (que é uma<br />

mistura de coisas positivas e negativas — todos nós, na emergente ordem global, que é o con<strong>texto</strong> das<br />

nossas actividades diárias, temos de construir as nossas vidas de um modo muito mais activo do que<br />

nunca antes, do que resulta uma mistura de emancipação e de ansiedade, alimentadas por novas<br />

espécies de incerteza, sendo todavia um facto que as nossas vidas já não são mais vividas como um<br />

«destino» ou de um modo fatalista — e que não tem nada a ver com a lógica hayekiana, interpretada<br />

pelo Thatcherismo, da procura de um lugar próprio no mercado, por forma a que múltiplos egoísmos<br />

acabariam por servir o bem público) e a ordem cosmopolita gobal emergente. O individualismo que é<br />

aqui referido não tem nada em particular a ver com mercados ou com consumerismo (= consumerism:<br />

<strong>fazer</strong> campanha para a protecção dos interesses dos consumidores — Cfr. Oxford Advanced Learner’ s<br />

Dictionary of Current English, 4th edition, Oxford University Press, 1989/90, pág. 252); trata-se do<br />

desaparecimento do que já foi referido como a vida vivida como destino ou fatalismo. A vida mais<br />

activa ou mais enérgica que os indivíduos seguem hoje não é inimiga, nem da solidariedade social,<br />

nem da aceitação de responsabilidades sociais. Pelo contrário, tende a pressupor estas. Também a ideia<br />

da Direita do retorno à «família tradicional», <strong>ao</strong> mesmo tempo que essa Direita fomenta políticas que<br />

impõem fortes danos corrosivos a essa «família», também não é caminho, simplesmente porque a<br />

chamada «família tradicional» é um mito e, na realida-de, mal existiu; embora a ideia comunitária<br />

de criar «famílias fortes» não seja, em si, uma ideia estúpida, a verdade é que tais famílias pouco se<br />

assemelharão às «famílias tradicionais» e não é verdade que inevitavelmente produzam uma sociedade<br />

com uma mais ampla coesão. A própria noção de comunidade é suspeita, sobretudo se se quiser dizer<br />

um grupo fortemente unido e partilhando um claro quadro de valores: só que as comunidades, neste<br />

sentido (que é o usado por pensadores «comunitaristas», como ETZIONI, nos Estados Unidos, e DAVID<br />

SELBOURNE, com o seu «princípio do dever»), podem bem ser mais divisionistas do que integradoras<br />

e são também usualmente autoritárias; e o «privatismo familiar» pode ser um perigo para uma mais<br />

ampla coesão social, tanto quanto qualquer outra forma «fechada» de grupo ou de comunidade. Mais do<br />

que sobre a ideia de comunidade, deveria ser a ideia de uma to<strong>ler</strong>ância da diversidade familiar, que<br />

deveria <strong>fazer</strong> parte de um cosmopolitismo de que depende agora a ordem social. O apelo da ideia de<br />

comunidade provém do sentido que muita gente tem da necessidade de reparação ou de renovação.<br />

Esse sentido é mais do que um deslocado aspirar a um passado idealizado de segurança e estabilidade.<br />

Tem origem numa consciência dos danos que o desenvolvimento económico, quando dominado<br />

pelas forças descontroladas do mercado, pode trazer. Falar em famílias fortes, localidades<br />

ressurgentes, uma cultura cívica reconstruída — tudo isto exprime uma necessidade de tornar a<br />

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