20.04.2013 Views

Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

Poderá fazer ler o texto completo deste livro - Um Jurista ao Vento

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

«(...) É conhecida a inversão que NIETZSCHE faz <strong>ao</strong> Evangelho de João (1,1): “No princípio era o<br />

não-sentido, e o não-sentido estava em Deus, e Deus era o não-sentido”. Porém a “paródia” (como lhe<br />

chama) fica logo a nu: a pretensão de afirmá-lo anula a “negação” pretendida. E NIETZSCHE não o<br />

ignorava. O que ele queria dizer visava um sentido ! Em que ficamos pois ? Terá NIETZSCHE<br />

efetivamente pretendido que tudo é “em vão” (umsonst) ? E SARTRE, que tudo está “a mais” (de<br />

trop) ? E os chamados post-modernos, que nada vale a pena ? É que uns e outros se decidiram, ou<br />

vão decidindo, pelo “sim à vida”. Os primeiros, persistindo em proclamar (o que julgaram ser) o ideal<br />

de verdade. E, aqueles e estes, resistindo à voragem do vazio. Talvez à beira do limite, talvez sem<br />

saberem porquê, mas resistindo. O nihilismo não aparece <strong>ao</strong>s nihilistas como razão bastante para se<br />

suicidarem. Ainda bem !<br />

Não o aduzimos como um argumento “ad hominem”. Isto mostra sim que o sentido envolve verten-tes<br />

mais vastas e profundas do que o discurso intelectual. Neste con<strong>texto</strong>, tem de concordar-se com CA-<br />

MUS: “Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio. Julgar se a vida merece<br />

ou não ser vivida, é responder a uma questão fundamental da filosofia” (A. CAMUS, O mito de<br />

Sísifo, p.13). Diga-se o que se disser, a prova real do sentido damo-la vivendo !»<br />

E mais à frente:<br />

«(...) O “Sem-Sentido” não se pode demonstrar, nem viver.. É tão-só, contraditório. Em termos<br />

gnoseológicos, e em termos ontológios. O homem é constitutivamente tensão-para o Horizonte<br />

Absoluto. Por isso, quem se contente com “satisfações” particulares vive necessariamente em deficit. O<br />

que é particular não tem condições para corresponder à carência do homem. Eis por que não é possível<br />

a ninguém viver, definitivamente, do Vazio. É esta a questão. Quem navega “à vista” (do imediato) pode<br />

nem ter consciência dela. Ma isso significa que a questão não esteja em nós. A pergunta pelo sentido<br />

último reaparece sempre. Como as águas subterrâneas. Mas não somos nós o cânon dela. Reaparece,<br />

porque está entretecida em nós. Nós — e todo o finito — carecemos de sentido.<br />

Se a carência fosse apenas negativa, isto é, fosse tão-só o mero vazio (daquilo que não se tem), ela não<br />

bastaria para dar conta desta dinâmica intrínseca. Por outras palavras: esta dinâmica resulta de um<br />

apelo. De uma tensão para Algo. O qual não pode supor-se como sendo só à maneira de “infinito<br />

vazio”. <strong>Um</strong> indefinido poder-ser não poderia fundamentar que a tensão seja precisamente “tensão-<br />

para”. “Carência-de...”».<br />

⎯ Mas também ⎯ e ainda a respeito daquela antes referida Temática da Racionalidade, nos parece de<br />

todo pertinente — e, por isso, não resistimos a transcrever — o iluminante <strong>texto</strong> que se encontra no<br />

poema do já referido libanês GIBRAN KHALIL GIBRAN, intitulado O Profeta, quando, interpelado<br />

pela sacerdotiza, AL-MUSTAFA respondeu:<br />

«E a sacerdotiza falou novamente e disse: “Fala-nos da Razão e da Paixão”.<br />

E ele respondeu, dizendo:<br />

204

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!